Certa vez, há uns dez anos, organizei uma atividade extraclasse com uma turma de 40 alunos do cursinho Pré-Vest da UEPB (onde ministrava História da Parahyba) na cidade do Ingá, distante 40km de Campina Grande. Na oportunidade, contei com a participação do arqueólogo Professor da UEPB Juvandi de Souza Santos, do Prof. de Geografia Welton Souto e do condutor de ecotrilhas da cidade Dennis Mota. A aula tinha pretensões históricas e também geográficas, já que é um espetáculo observar a descida do planalto da Borborema, como a vegetação e o ambiente muda consideravelmente centenas de metros abaixo.
No Ingá desembarcamos na Praça Antenor Navarro, onde os alunos puderam conhecer a igreja matriz Nossa Senhora da Conceição, o largo da Matriz e ali expliquei como se deu o desenvolvimento urbanístico de boa parte das cidades daquela região interiorana, abordando ao mesmo tempo vários aspectos da história da cidade. Em seguida, a turma pode conhecer o patrimônio histórico do Ingá.
Ao caminhar pela Av. Pres. João Pessoa, os alunos puderam observar o apelo estético dos casarões e palacetes em estilo neo-clássico e eclético. Ali, também dei apontamentos sobre todo o contexto da afamada Revolta de Quebra-Quilos, onde em 21 de Novembro de 1874 revoltosos invadiram a cidade, armados de paus e pedras (como afirmou Horácio de Almeida em sua História da Paraíba, 1978) aos gritos de ‘morra’ para os maçons e ‘viva’ para os católicos, libertando presos, queimando papéis e documentos da câmara, do cartório e de órgãos públicos como protesto aos vários decretos imperiais que eram mal vistos pela população além de quebrar pesos e medidas em casas comerciais. Levei os estudantes para conhecerem a antiga entrada da cidade, por onde principiou àquela ‘invasão’.
Nestas imediações, a turma conheceu a centenária Capela Nossa Senhora do Rosário, que em contexto com o cruzeiro da cidade, refletem o cristianismo interiorano do século XIX. Encantados com o que viam, os alunos estavam atentos e questionativos, contextualizando o que fora visto em sala de aula com o que percebiam in loco.
Já eram quase 10h da manhã, quando nos dirigimos para o complexo arqueológico da Pedra do Ingá, onde o arqueólogo Prof. Juvandi Santos nos esperava para apresentar o Museu de História Natural da cidade, abordando a restauração do acervo, feita pelo Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB e ministrando aula sobre paleo-ambiente, a mega-fauna pleistocênica e a cultura material arqueológica da Paraíba. Já na Pedra do Ingá, Dennis Mota e Eu nos revezávamos no mister de explicar os aspectos históricos e arqueológicos daquele magnífico sítio pré-histórico. Mesmo com o cálido clima do Piemonte paraibano, todos permaneceram ali, atentos a tudo, deleitando-se depois da bela paisagística existente no Vale do Bacamarte, refrescando-se à sombra do arvoredo.
Na visitação ao Museu, é de praxe a recomendação de uma pequena taxa para manutenção do acervo e instalações, assim fizemos e em contribuição a preservação deste equipamento didático, adquirimos um cubo protetor de vidro para proteger um dos expositores, ação que foi posta em prática pelo Prof. Juvandi e pela aluna Patrícia Lira, que solenemente fizeram a doação, uma ação de cidadania e o pontapé para novas contribuições da sociedade a salvaguarda daquele acervo. Anos depois, todo o acervo está sob campânula de vidro e muito bem cuidado.
A referida aula ocorreu em pelo menos mais dez outras oportunidades e foi muito interessante perceber o envolvimento e interesse dos alunos com a aula de campo, é neste momento que compreendemos o quanto uma atividade extra-classe é enriquecedora e capaz de abrir os caminhos do conhecimento para turmas de jovens ansiosas pelo saber. Neste sentido, nossa ação contemplou os objetivos do Pré-Vest cumprindo com seu propósito de promover a cidadania e a inclusão social em Campina Grande.
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