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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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  • Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

A menina e a pelota

Era seu primeiro dia na escolinha, não conhecia nada além do seu lar, da casa de vovó Poté e de uma ou outra espiada na calçada da bodega de seu pai, bem na frente de sua casa. Sua vida era plena de cuidados e afagos de seus pais e das brincadeiras com seu único irmão. Sua pele alvinha e cabelos castanhos claros eram embelezados por um lindo e contagiante sorriso que deixava seus olhinhos como pequenos riscos e as covinhas que surgiam nas rosadas bochechas davam um toque ainda mais especial naquele ser angelical, seu nome: Wanessinha.


Wanessinha tempos antes da primeira aulinha

Seus três anos recém completados não eram suficientes para confiar momentos de sua vida a estranhos, a insegurança e presença de gente estranha sempre a fazia chorar, mesmo que fossem parentes distantes. Não tardou e ela ganhou o apelido de “manteiguinha derretida”, tudo tinha que ser no diminutivo para combinar com sua meiguice. Naquele dia tão esperado pelos pais, ela faria um rito de passagem, iria, a partir de então, passar suas manhãs na escola e o Instituto A Patotinha, com suas duas salas e um pequeno pátio, chegava a ser imenso e ao mesmo tempo incógnito.


Wanessinha se animou. E no caminho para a escola foi calmamente acompanhada por sua mãe e de mãos dadas com o irmão. Desceram a rua de casa tomando a direita n’uma rua de terra de onde se via uma bela paisagem da cidade, serras contornavam o horizonte e as árvores floridas marcavam o caminho.


O pequeno portão estava aberto, meninos e meninas da mesma faixa etária entravam devagar. Curiosos, se entreolhavam; foi quando sua mãe a entregou à Tia Giseuda, responsável pela turma Jardim I. Enquanto conversam, mãe e professora relembram anos antes quando o irmão de Wanessinha frequentava a escola e o garoto, olhando para os cantos, não via muita diferença do tempo que ali viveu, até a farda era a mesma; e aquela cena foi um dos primeiros marcos de saudade do menino que, aos 6 anos, iniciara vida em outra escola já na 1ª série. – Vá com ela, é sua professora, balbuciou a mãe. E aquela despedida a marcou profundamente. Se sentindo acuada, em meio a estranhos, a pequena Wanessa chorou copiosamente. – É muito bom, já estudei aqui, disse o irmão. E ela foi, aos poucos, consolada.


Naquele instante, seu irmão disse: – Se você não chorar, quando for no intervalo eu trago uma pelota. Wanessinha não resistia àquela guloseima de morango que guardava um chiclete em seu interior, ela adorava assim como seu irmão amava o chocolate batom. E ele garantiu que levaria. O portão se fecha, os irmãos se beijam pelo entremeado da grade, pegados pelas mãos ele diz: – Eu venho viu? Ela, com olhos ainda vermelhos, cabelo amarrado e ainda suada pelo momento de emoção responde: – tá; dando as costas e virando várias vezes, despedida retalhada de passos à frente e olhares atrás.


Mãe e filho voltam para casa e o garoto diz que tem que levar a pelota. A mãe já fica temerosa: – Será que teu pai vai deixar? É longe pra você que é tão pequeno! O relógio parecia não querer badalar as nove horas, enquanto isso os pais conversavam e ora deixava, ora não e aquele impasse angustiava o garotinho. – Mas ele vai saber o caminho? Ah, vamos deixar, vá meu filho (disse a mãe), agora cuidado viu? Ele pega a pelota pelo cabo e inicia a caminhada. Quatro quadras separam a casa da escola, jamais Búnio (era como Wanessa recitava o nome Bruno) tinha ido tão longe sozinho. O medo foi aos poucos vencido pelo pensamento na irmã. A concentração era tamanha que de tanto apertar o cabo daquele docinho, ele tropeçou em uma pedra e caiu. Olhou para trás, limpou a pelota, bateu a poeira e seguiu.


Da esquina ele ouviu a algazarra das crianças no recreio e a viu junto ao portão, como a esperar o prometido. De sorriso largo no rosto ele põe a mão em que estava o doce para trás, ela sorria quase fechando os olhinhos, parecia nem se importar com a pelota; é quando ele a entrega e diz: – Eu num disse que vinha! Tá gostando? Ela não sabe se livrar do papel que envolve a pelota, ele abre e aquela guloseima vermelhinha chega finalmente à sua boca, adoçando aquele olhar e marcando sensivelmente o momento entre irmãos. O intervalo acaba, ela com a bochecha proeminente diz: – Xau Búnio; e volta pra aulinha, ele para casa; ambos muito felizes.


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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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