No Sítio Areal
- Thomas Bruno Oliveira
- há 4 minutos
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CERTA VEZ, na velha sede de fazenda do sítio Areal, conversamos sobre um dia que esse paraíso oculto na caatinga possa ser revelado para o maior número de pessoas possíveis. Areal está entre Prata e Monteiro, hoje escondida, mas que um dia foi auge de episódios políticos que desencadearam em uma épica batalha do Augusto Santa Cruz contra as forças “oficiais”. Em 1911, a Parahyba contava com cerca de duzentos homens na polícia, enquanto Santa Cruz tinha pelo menos cento e vinte combatentes (e chegou a ter trezentos!). Augusto era advogado, promotor e juiz, por isso denominado pelo saudoso amigo Pedro Nunes como o ‘Guerreiro Togado’. Pedro me dizia como, desde criança, ouvia a velha história. Seus olhos brilhavam ao narrar como uma cantiga as histórias de Augusto Santa Cruz e sobre seu sonho em escrever um dia essa história, e ele conseguiu e publicou em duas edições o ‘Guerreiro Togado’, obra seminal para entender a história política da Parahyba nos começos do século vinte.

Pois bem, acredito que o momento tão esperado chegou. 114 anos depois, justamente nesse último fim de semana, voltei a velha fazenda, cheirei a caatinga rala e senti aquele calor caririzeiro que nós conhecemos. Estávamos na comissão de organização do ‘V Borborema Cangaço’ evento dedicado a uma temática tão sensível de nossa história. Monteiro foi palco do evento que contou na abertura com o cearense Aderbal Nogueira, apresentação teatral do amigo Gilmar Albuquerque, que encarnou o Augusto Santa Cruz e diversas palestras de Bismarck Martins de Oliveira, Marco di Aurélio, Daniel Duarte Pereira, Gutemberg Pereira, Júnior Almeida, Julierme do Nascimento (Presidente do Borborema Cangaço) dentre outros além da visitação ao Beco da Poesia, a Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores e os pontos históricos da cidade.
Na Fazenda do Areal, fizemos uma jornada imersiva na história e contando com as gravações do Aderbal, o lugar será divulgado no mundo inteiro. Isso foi no sábado pela manhã. Pegamos o ônibus e rumamos para ao sítio. Na entrada da Prata, avistamos ao longe a Serra da Matarina, reduto de um patrimônio histórico e arqueológico de impressionar. À direita, seguimos em estrada de terra e contornamos os caminhos acatingados, avistei seriemas selvagens, se confundindo com a acinzentada vegetação e depois de um velho açude, entre serrotes de pedra, chegamos a velha sede de fazenda, um casarão em amarelo com detalhes brancos, assim como há 14 anos, onde se comemorou o centenário do acontecimento e o Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano, sob a presidência de Daniel Duarte, fez um evento comemorativo em parceria com a prefeitura da Prata que, à época, tinha Marcel Nunes (sobrinho de Pedro) como Prefeito.

Beato Vicente, um poeta e guia turístico de Monteiro foi quem nos conduziu, junto a poetisa Angélica Costa. Todos ficaram encantados com os relatos históricos. Bisnetos e trineto de Augusto estavam presentes, dois deles são poetas e declamaram em verso uma série de episódios.
Algumas imagens do V Borborema Cangaço Monteiro-PB
No “pingo do meio dia”, como dizemos por aqui, a temperatura beirava os 37°C e a sensação térmica passava dos quarenta. Houve um momento que o vento deixou de soprar, o calor ficou causticante, nauseante até e os lugares mais concorridos eram as poucas sombras que se ofertavam. Naquele momento, peguei Pedro Rômulo Nunes, sobrinho do saudoso Pedro Nunes, pelo braço e caminhamos ao redor do casarão, relembrando de seu tio e da alegria que era estar por ali novamente. Alegria grande, imensa. O Borborema Cangaço veio como um sopro de valorização de nossa cultura e história e, para nosso orgulho, fará muito mais pela Parahyba.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A UNIÃO em 4 de outubro de 2025.
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