Ares brejeiros III
- Thomas Bruno Oliveira
- 5 de ago.
- 4 min de leitura

AINDA EM ALAGOA GRANDE, passeamos pela rua do Teatro Santa Ignêz e vimos a pompa de residências históricas que muito bem demonstram ares da nobreza de uma época em que a cidade se destacava como uma das maiores economias da região. Destaco a garbosa construção da ‘Villa Bella Vista’, inaugurada em 1920. Prof. Roniere Soares não conhecia a cidade e se encantou com tudo o que viu, foi bonito de se ver a descoberta dele, suas impressões, o quanto cada detalhe o impressionou. Dentre as muitas fotografias, fizemos o registro do prédio sede dos Correios, uma quase réplica do que tínhamos em Campina Grande na década de 1930, antes da construção do atualíssimo prédio em art dèco que hoje é um bastião das construções históricas de Campina Grande em seu coração, a Praça da Bandeira.
Alagoa Grande - PB
Hora de ir embora. Ali mesmo nos arredores, do Teatro, embarcamos no carro de Julierme Nascimento e fomos naquela mansidão de quem não quer ir e sim observar cada detalhezinho – como o personagem Marcovaldo, do escritor Ítalo Calvino, observando até um broto de planta que nasce em um canteiro. Alagoa Grande nos deixou saudades. Passando pelo Mercado Público, ali, defronte, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, e a forte lembrança da grandiosa luta captaneada por Elisabeth e Pedro Teixeira nas Ligas Camponesas, uma chuvinha começa a cair. É impagável aquele cheiro do gotejar quando beija o chão. Cheiro da terra sendo molhada, beijada pelo tempo, acariciada pela natureza. Em casa sempre comento com minha esposa Joaninha: “como é bom sentir esse cheiro de chuva não é?”. Ao retornar para Areia, me dou conta de que não mostrei a Roniere a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, na margem da Lagoa do Paó, aquela mesmo que teve os sapos calados a pedido de Frei Damião, quando ali celebrava em uma de suas famosas missões. Também não conheceu o monumento a Jackson do Pandeiro, um belo arco em forma de pandeiro que orna a entrada principal da cidade, vai ficar para uma próxima.
A volta a Areia, Parahyba. - TB
Esse retorno a Areia tinha que acontecer. Poderíamos ter voltado para Campina pela BR 230, mas preferimos nos embrenhar brejo à dentro novamente. Subindo a Serra do Bruxaxá, banhados por aquela chuvinha, depois de tantas curvas majestosas, mais belas do que as da estrada de Santos - que conheci em 2018, chegamos ao portal de entrada de Areia. Sinceramente não sei quando foi construído, mas ele exala um ar de oficialidade, é majestoso e tem detalhes que lembra a serra gaúcha. A partir dali, o céu vai se abrindo lentamente. As nuvens chuvosas se juntam no alto da Serra. Foi entrar em Areia e a chuva nos brindar. Paramos por ali no oitão da Matriz, caminhamos entre os casarões históricos, andamos por aquele calçamento ancestral, uma movimentação era perene e logo entendi, como Areia era a primeira cidade da rota Caminhos do Frio, ela se enfeitava com um brilho para aqueles que durante a semana iriam se encontrar. Coincidentemente, na mesma semana, assisti um vídeo no canal de youtube ‘Boa sorte viajante’, capitaneado por Mateus Boa Sorte. Ele mostrou de maneira elegante Areia, Bananeiras e Serraria. Um bahiano que foi conquistado pela Parahyba. Um dos lugares que visitou foi o empório de Vavá, defronte do antigo ‘Bar do Chifre’.
Mateus Boa Sorte em Areia-PB no canal do youtube Boa Sorte Viajante - (https://boasorteviajante.com.br/)
Vavá Chianca (Walfredo Alves Chianca) é parente de uma grande amiga e confreira do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica Victória Chianca, seu pai foi bodegueiro e tinha a arte do negociar. Um retrato na parede ele mostrou com orgulho, trata-se de uma tia que tocou violino na filarmônica Abdon Milanez. No Boa Sorte Viajante, Vavá ofereceu uma diversidade enorme de cachaça saborizada, e tudo isso servida em primeiro gole em um pinico. Sim, um pinico de ágata que segundo a lenda, foi de sua mãe e hoje é atrativo turístico da cidade. Deixamos a simpatia de Vavá e seguimos para o Casarão José Rufino, uma construção colonial que hoje abriga um museu muito organizado. É também sede do IPHAN e do nosso Instituto Histórico e Geographico de Areia. Naquele ambiente, em algumas “selas” da senzala urbana, Roniere, Julierme e eu sentamos e refletimos sobre o cotidiano daquele lugar.


Areia se enfeitando para a rota 'Caminhos do Frio' 2025 - TB
Na calçada do casarão que nos conduz até a matriz, uma gambiarra de luz era instalada e eu disse: É enfeite para os Caminhos do Frio. E nos Caminhos, essa semana, Solânea é o foco, visitem e aproveitem esse friozinho charmoso do brejo parahybano.
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Veja também: Ares brejeiros I e II no link: https://www.turismoehistoria.com/post/ares-brejeiros-i-e-ii
Publicado (de maneira resumida) na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A UNIÃO em 26 de julho de 2025.