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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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  • Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Bomba no cinema

Era um sábado de clima ameno. Aquela quentura do verão já havia se esvaído. Logo após o tradicional almoço com galinha de capoeira, o casal se divide. Pierre foi dar a cochilada tão esperada, era fim de semana e ele não abria mão de seu sono na rede desfraldada na varanda com a tv ligada, lógico. Já Ana, prefere ficar na “cadeira do Papai” para assistir sua série favorita, ou melhor, dormir a série, como ela costuma dizer.

Entrada das salas de exibição - ClickPB

As horas se passam, ambos se acordam. Depois de ver uma coisinha aqui e outra ali, se unem na sala para ver algum programa de auditório e quem sabe tomar uma cervejinha. Algum momento se passa até que Ana, querendo fugir um pouco a monotonia e animar aquele fim de tarde do casal, resolve convidar seu esposo para assistir um filme no cinema do shopping e depois dar uma volta, Pierre aceita de pronto: ­– Ótima ideia! Eles conviviam muito bem em seus mais de trinta anos de união, filhos adultos e ansiando por netos.


Ao sair, na boquinha da noite, lembram das saídas aos sábados para o 2002 ou para a Boate Skina para curtir suas músicas favoritas degustando ‘Cuba-libre’ e Campari. Tempos bons não era? Hoje é muito bom também. Cada momento com sua beleza e disso ambos concordavam. Chegam ao shopping, demoram um pouco para estacionar, mas não muito. Bem arrumados, seguem de mãos dadas até o setor das salas de exibição e são orientados a fazerem o pedido dos ingressos em uma máquina. Observam os filmes em cartaz e escolhem. Vão à tal máquina e fazem o pagamento. Com os tickets em mãos, se dirigem à entrada e descobrem que a compra foi com a data errada, referente ao dia seguinte. Voltam ao guichê, resolvem o caso, ainda era cedo, e entram. Dentro só havia quatro pessoas na primeira fila. A deles era mais ao meio. Em alguns instantes entra um casal e vai se dirigindo justamente para onde estão Ana e Pierre, eles tinham comprado coincidentemente aqueles assentos e mostraram os bilhetes. Eles saem e ficam algumas filas mais acima.


Vinte minutos se passam até que tem início o filme. De imediato entra um homem alto, cabeludo, com farta barba e senta ao lado de Ana, já que ao seu lado esquerdo até o fim do corredor, havia duas poltronas vazias. O desconhecido cidadão olhou rapidamente para o casal e arregaçou a manga do casaco para ver a hora, ao mesmo tempo em que remexia algo em sua mochila, como que querendo esconder alguma coisa. Tirou o casaco e pôs no encosto do assento à sua frente e com ar de nervoso escarafunchava sua bolsa. A pouca luz que a tela proporcionava vez ou outra não era suficiente para saber o que tanto o barbudo fazia, certo é que do filme parecia não estar interessado. É quando ela de olhos arregalados avisa a Pierre, que já se entretia com o filme: – O que foi Ana? – Fala baixo, olha esse homem, vamos sair daqui. – O que ele fez (já subindo o tom de voz) ele fez algo com você? – Vamos sair. E eles saem das vistas do barbudo. No novo lugar, ela diz: – Ele tá com uma bomba! – Que conversa Ana! – Tá sim! Vamos embora.


O interior - Cinesercla Cinemas

Termina o filme e Ana puxa Pierre pelo braço e anda ligeiro. No acesso ao banheiro, ela olha para trás: – Ele tá vindo atrás da gente. – Aonde? É, ele vem ali e com a mochila nas costas. Correm para o banheiro. Naquele momento, Pierre já achava que tinha algo de muito estranho. Na praça de alimentação, ainda tensos, eles entram em um barzinho. Quando Ana acaba de fazer o pedido ao garçom, vê o tal cabeludo indo na direção do bar, ela pega com as duas mãos a mão direita do garçom e implora falando apressadamente: – Fica aqui com a gente, fala aqui com a gente, fale aqui com a gente, ele vem ali Pierre. Sem saber direito o que fazer, ele já observa possibilidades de defesa, tamborete, garrafa, faca, parado é que não ia ficar. Naquele instante o garçom murmura: – Ele parou no balcão, pediu uma carteira de cigarro. Quando Ana e Pierre se viram (Ela com uma mão no rosto e os olhos cerrados) eles veem o suspeito cidadão se dirigir à escada rolante, no caminho da saída do shopping. Foi pôr os pés na escada e Pierre seguiu atrás, queria ver se entendia ou descobria alguma coisa de toda aquela “confusão”. Ao chegar na saída C, o homem passa a porta automática e ela se fecha, Pierre suspira em alívio, olha para o segurança e aponta para o barbudo e houve o guarda comentar: – Esse cabra é vizinho meu lá na Liberdade, só vive assim parecendo um doido, mas é fera na computação. Todo sábado ele vem e grava escondido um filme para postar em seu canal na internet, já ouvi até que ele ganha dinheiro com isso. Se descobrirem aqui, ele vai é preso. Me falou certa vez que só sai por aqui porque é onde eu trabalho, se a polícia vir eu fecho a porta e ele corre. Mais já pensou numa coisa dessas? É cada doido!


Pierre sobe as escadas sério, senta ao lado de Ana e ela ainda assustada pergunta o que descobriu. Ele dá uma sonora gargalhada e conta toda a história. Eles voltam a atenção para sua torre de chopp e se divertem a noite toda. Até hoje quando lembram a história ela diz: – Meu Deus, que loucura foi aquela!

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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União de 15 de janeiro de 2022.

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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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