Era um sábado de clima ameno. Aquela quentura do verão já havia se esvaído. Logo após o tradicional almoço com galinha de capoeira, o casal se divide. Pierre foi dar a cochilada tão esperada, era fim de semana e ele não abria mão de seu sono na rede desfraldada na varanda com a tv ligada, lógico. Já Ana, prefere ficar na “cadeira do Papai” para assistir sua série favorita, ou melhor, dormir a série, como ela costuma dizer.
As horas se passam, ambos se acordam. Depois de ver uma coisinha aqui e outra ali, se unem na sala para ver algum programa de auditório e quem sabe tomar uma cervejinha. Algum momento se passa até que Ana, querendo fugir um pouco a monotonia e animar aquele fim de tarde do casal, resolve convidar seu esposo para assistir um filme no cinema do shopping e depois dar uma volta, Pierre aceita de pronto: – Ótima ideia! Eles conviviam muito bem em seus mais de trinta anos de união, filhos adultos e ansiando por netos.
Ao sair, na boquinha da noite, lembram das saídas aos sábados para o 2002 ou para a Boate Skina para curtir suas músicas favoritas degustando ‘Cuba-libre’ e Campari. Tempos bons não era? Hoje é muito bom também. Cada momento com sua beleza e disso ambos concordavam. Chegam ao shopping, demoram um pouco para estacionar, mas não muito. Bem arrumados, seguem de mãos dadas até o setor das salas de exibição e são orientados a fazerem o pedido dos ingressos em uma máquina. Observam os filmes em cartaz e escolhem. Vão à tal máquina e fazem o pagamento. Com os tickets em mãos, se dirigem à entrada e descobrem que a compra foi com a data errada, referente ao dia seguinte. Voltam ao guichê, resolvem o caso, ainda era cedo, e entram. Dentro só havia quatro pessoas na primeira fila. A deles era mais ao meio. Em alguns instantes entra um casal e vai se dirigindo justamente para onde estão Ana e Pierre, eles tinham comprado coincidentemente aqueles assentos e mostraram os bilhetes. Eles saem e ficam algumas filas mais acima.
Vinte minutos se passam até que tem início o filme. De imediato entra um homem alto, cabeludo, com farta barba e senta ao lado de Ana, já que ao seu lado esquerdo até o fim do corredor, havia duas poltronas vazias. O desconhecido cidadão olhou rapidamente para o casal e arregaçou a manga do casaco para ver a hora, ao mesmo tempo em que remexia algo em sua mochila, como que querendo esconder alguma coisa. Tirou o casaco e pôs no encosto do assento à sua frente e com ar de nervoso escarafunchava sua bolsa. A pouca luz que a tela proporcionava vez ou outra não era suficiente para saber o que tanto o barbudo fazia, certo é que do filme parecia não estar interessado. É quando ela de olhos arregalados avisa a Pierre, que já se entretia com o filme: – O que foi Ana? – Fala baixo, olha esse homem, vamos sair daqui. – O que ele fez (já subindo o tom de voz) ele fez algo com você? – Vamos sair. E eles saem das vistas do barbudo. No novo lugar, ela diz: – Ele tá com uma bomba! – Que conversa Ana! – Tá sim! Vamos embora.
Termina o filme e Ana puxa Pierre pelo braço e anda ligeiro. No acesso ao banheiro, ela olha para trás: – Ele tá vindo atrás da gente. – Aonde? É, ele vem ali e com a mochila nas costas. Correm para o banheiro. Naquele momento, Pierre já achava que tinha algo de muito estranho. Na praça de alimentação, ainda tensos, eles entram em um barzinho. Quando Ana acaba de fazer o pedido ao garçom, vê o tal cabeludo indo na direção do bar, ela pega com as duas mãos a mão direita do garçom e implora falando apressadamente: – Fica aqui com a gente, fala aqui com a gente, fale aqui com a gente, ele vem ali Pierre. Sem saber direito o que fazer, ele já observa possibilidades de defesa, tamborete, garrafa, faca, parado é que não ia ficar. Naquele instante o garçom murmura: – Ele parou no balcão, pediu uma carteira de cigarro. Quando Ana e Pierre se viram (Ela com uma mão no rosto e os olhos cerrados) eles veem o suspeito cidadão se dirigir à escada rolante, no caminho da saída do shopping. Foi pôr os pés na escada e Pierre seguiu atrás, queria ver se entendia ou descobria alguma coisa de toda aquela “confusão”. Ao chegar na saída C, o homem passa a porta automática e ela se fecha, Pierre suspira em alívio, olha para o segurança e aponta para o barbudo e houve o guarda comentar: – Esse cabra é vizinho meu lá na Liberdade, só vive assim parecendo um doido, mas é fera na computação. Todo sábado ele vem e grava escondido um filme para postar em seu canal na internet, já ouvi até que ele ganha dinheiro com isso. Se descobrirem aqui, ele vai é preso. Me falou certa vez que só sai por aqui porque é onde eu trabalho, se a polícia vir eu fecho a porta e ele corre. Mais já pensou numa coisa dessas? É cada doido!
Pierre sobe as escadas sério, senta ao lado de Ana e ela ainda assustada pergunta o que descobriu. Ele dá uma sonora gargalhada e conta toda a história. Eles voltam a atenção para sua torre de chopp e se divertem a noite toda. Até hoje quando lembram a história ela diz: – Meu Deus, que loucura foi aquela!
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União de 15 de janeiro de 2022.
Que história maravilhosa, Thomas Bruno!
Numa manhã de domingo, boas gargalhadas! Estou renovada, kkkkk! Realmente, que mente fértil! O homem-bomba em Campina Grande - seria uma ótima manchete de jornal. A crônica tem disso, leveza no olhar e cheia de humor. Parabéns!
Viagem de quem anda ou andou vendo muito seriado na adolescência e, quem, as séries de serialkiller de hoje em dia... Um homem bomba em Campina? Nem se quando Rodão Mangueira anunciava o fim do mundo com suas borboletas azuis...
Que viagem foi essa, um homem bomba em Campina? Kkkkkkkkk
Gostei, muito criativa!!!
Nossa que tensão para terminar logo e ver o final
Kkkkk que coisa,agente ler e fica ansiosa esperando ver o final e saber o que de fato realmente esse homem era,kkk.Mais uma de sua crônicas maravilhosas heim!!!Thomas ,parabéns!E que venham muito mais.