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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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  • Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Bucólica Lucena-PB


Praia de Gameleira, em Lucena. Detalhe: um instante de um pescador.

ASSIM COMO OCORREU nos últimos anos, vim para a bucólica Lucena-PB passar o réveillon com a família. Têm uns dez anos que Papai comprou um ranchinho para os Oliveiras curtirem o verão e algumas das festas do ano, dentre elas a passagem de ano e o carnaval. Após alguns anos alugando casas, conseguiu comprar a casa em um lugar tranquilo e sem o frisson que ocorre nos arredores da praça central por quase todos os dias, sobretudo nos de festança, e essa localização é bem próxima da ‘pontinha de Lucena’ onde as ondas convergentes de um corte entre duas pequenas baías surge o “caminho de Moisés” esse trecho avança ao mar por vários metros e os visitantes vão de carro até longe. O Moisés da Bíblia sagrada abriu o mar vermelho por inspiração divina. O caminho que alude ao profeta bíblico em Lucena é uma dádiva da maré baixa, momento em que é ofertado esse atrativo turístico que vem ganhando a cada dia mais visitantes. Para os menos avisados, infelizmente, algumas pessoas pereceram por não observarem o movimento da maré, inclusive o último caso que se tem notícia foi o de duas irmãs que estavam em retiro de uma igreja pentecostal, não conseguiram voltar.


Pesca solitária... Dist. de Fagundes, Lucena-PB

De uma vila de caboclos pescadores, lá pelo século XIX, com destaque para um senhor Lucena que: “carregava em seu pequeno barco quantas pessoas coubessem de um lado a outro do Rio Parahyba, interligando Costinha e o bairro de Camalaú em Cabedelo, ou mesmo ligando ao cais do porto do mesmo município”. “Seu Lucena era a referência do lugar e seu serviço indispensável para todos, sem qualquer exceção,” E o “vamos lá pra seu Lucena” fez com que se cristalizasse o lugar como Lucena e o topônimo existe até hoje, município emancipado e com vida própria.


Cheguei na sexta-feira, dia vinte e nove. O movimento habitual, nada de anormal. A sexta chama o povo para as ruas principais. Um churrasquinho aqui, bebericos acolá, crianças e idosos nas calçadas, era início da noite. A quentura do dia tinha cessado e sexta é sexta não é? Alguns bares tem seu movimento incrementado, trabalhadores do Coco do Vale exibiam suas fardas grossas em azul, fim de semana, o último do ano.


Lucena e seus coqueirais

Mas esse movimento se concentra nas duas artérias principais, no restante da cidade repousa a paz. Lucena é uma cidade bem interessante, o viver de seu povo parece bailar suavemente como as ondas que ora são verde esmeralda que faz doer (Nos dizeres de Cátia de França sobre as águas de Tambaú) em outros momentos um explendoroso e inspirador azul turqueza. A vista para o mar se dá em quase toda a orla, de Costinha à barra do Rio Camaçari. Duas são as povoações, pequenos núcleos urbanos existentes. Além de Lucena, temos o simpático distrito de Fagundes. Sábado é dia de feira, vem gente de todo lugar vendendo seus produtos e serviços, no domingo, em Fagundes, o movimento é grande. É banca de conserto de relógio e chaveiro, sapateiros, etc.


O bambuzal se fez portal, Lucena cá, Santa Rita acolá

Em Lucena, a maioria de suas casas comerciais não abre às oito da manhã, e sim em algum momento entre as nove e dez horas e a maioria fecha para o almoço e a ‘madorna’, que é aquela sonequinha depois do almoço, deve ser curtida. Ruas mais que desertas, calor causticante do lado de fora e a população abrigada do lado de dentro. Duas da tarde não é garantia de que estarão todas abertas, a esticada pode ir às três ou, em caso de padarias, pode ir às quatro da tarde, horário da fornada.


Isso não é regra oficial, mas são pequenas convenções que vão formando a identidade de um povo. Recantos onde a vida é vivida mais devagar, em outro compasso, características que muito nos ensina. Basta alguns dias para você conhecer e ser conhecido pelo padeiro, dono de mercado, agente dos correios, ambulantes (que são quase fixos!), donos e frequentadores de bares e restaurantes. Garçons e garçonetes, pescadores, etc. Vi muitas motos, mas também muitas bicicletas como meio de transporte.


Santuário da Guia à noite.

Esta antiga vila cabocla de pescadores, certamente formada por indígenas e escravizados (basta observar o fenótipo da população), tem o maior apreço e respeito pelo mar. O sagrado mar de onde se tira o sustento e o alimento. Não há uma família sequer que não tenha (ou teve) um pescador e é nesse mister, altamente dependente das mudanças ambientais, que a vida é concebida em seu ritmo próprio e em sua melhor maneira. Nas palavras do poeta filho de Lucena Américo Falcão: Verás nuvens passar — fina cambraia,/Na minha aldeia plácida e pequena.../Então dirás à vaga que se espraia,/— Como é bonita a Praia de Lucena!


Tábua de pirulitos. Vendedor na Prainha, outra graciosa atração de Lucena, praia fluvial no Rio Parahyba

Recentemente foi divulgada a construção de uma ponte que ligará Lucena à Cabedelo com um grande aporte de investimento chinês, esse é o primeiro passo para o grande projeto de desenvolvimento turístico do litoral norte. Se espera que haja o mesmo sucesso que houve no litoral sul, gerando inúmeros empregos e cidadania para cidades como Lucena, Rio Tinto, Mamanguape, Baía da Traição e muitas outras. Enquanto isso, a bucólica Lucena, continua sendo um paraíso escondido na mata atlântica parahybana com bastante potencial turístico a ser explorado.


Leia, curta, comente e compartilhe com quem você mais gosta!


Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A União em 06 de janeiro de 2023.

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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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