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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Campina e suas praças


Praça Clementino Procópio em 1950 - RHCG

As praças centrais da Rainha da Borborema são espaços de sociabilidade por excelência, mesmo a mais arborizada de nossos dias, a Clementino Procópio, se dá mais ao ritmo intenso da urbe do que a singela contemplação de sua formação vegetal. Praças são seres vivos que se transformam a todo o momento. A municipalidade dá novo conceito, reforma, muda, mas são os seus frequentadores que dão o sentido de lugar elegendo seus palcos em uma cartografia toda peculiar, são poetas, boêmios, artistas, estudantes, políticos, moradores de rua, gente ocupada e também desocupada, cada grupo preenchendo seu recanto. Hoje quem senta em seus bancos, nem imagina as inúmeras transformações.


Em Campina Grande, ao longo da história, as mudanças foram muitas e o marco que divide as maiores transformações foi a quadra cronológica entre 1935 e 1945, a conhecida grande reforma urbana de Vergniaud Borborema Wanderley que transformou sensivelmente a área urbana motivada no que disse o saudoso Professor Fábio Gutemberg: “em ideais burgueses modernos, que haviam transformado os centros de muitas cidades em exemplos do que concebiam como civilização e progresso”, sempre atendendo a fins estéticos e sanitaristas, próprios daqueles tempos, Haussmann em Paris (o artista demolidor), Pereira Passos no Rio de Janeiro e Vergniaud por aqui.


Praça da Bandeira em Cartão postal de 1959 - RHCG

Antes da reforma urbana, tínhamos os largos, espaços abertos no rosto da cidade onde as pessoas se encontravam. O largo da Matriz e o largo do Rosário eram supremos, apesar da existência do largo da Luz e da Praça Epitácio Pessoa, que se abria na frente do Pavilhão Epitácio (que ainda existe), nela havia um coreto para concorridos discursos, palco para bandas nas festividades. Entre o largo da Matriz e a Rua Grande (hoje Maciel Pinheiro), havia um largo chamado de Praça Municipal, onde foram realizadas algumas feiras, principalmente na década de 1920.


Praça Félix Araújo - RHCG

Em 1934, a Usina de Força e Luz foi demolida (se mudando para as margens do Açude Velho) assim como a segunda cadeia da cidade (construída em 1877) e nesse espaço foi inaugurada em 1936 a Praça Clementino Procópio, em comemoração ao aniversário de primeiro ano da gestão Argemiro de Figueiredo. É comum se ver referência a uma Praça da Luz, a mudança de nome é sempre demorada em sua adaptação, é como afirmou Cristino Pimentel que mudar o nome de uma rua é o mesmo que mudar um destino. Por falar em mudança, em 1964 o Prefeito Newton Rique fez uma homenagem às mães da cidade com uma estátua, inaugurada solenemente denominada de Mãe da Ternura, uma madona com seu bebê no colo. Como havia uma praça de taxi cortando a Praça Clementino Procópio, o canto onde está a estátua, defronte a 1ª Igreja Batista, passou a ser denominado e ainda hoje se vê quem chame de Praça da Ternura. Atualmente, com árvores frondosas é tida como a pracinha dos hippies, dos lavadores de carro e moto e dos camelôs na lateral do Cine Capitólio. Nela há o abrigo Maringá, construção em Art Déco com lanchonetes, engraxates, boxes e o tradicional Sebo ‘O Cata Livros’ de Ronaldo Andrade.


Praça da Bandeira atualmente

A Praça da Bandeira de hoje já teve o nome de Índios Cariris, quando era limitada pelo antigo prédio dos Correios e o largo do Rosário. Essa igreja cortava boa parte do que hoje é a maior avenida, a Floriano Peixoto. Nem Correios, nem igreja do Rosário. Também já foi Praça José Américo, quando a Av. Getúlio Vargas a cortava até a altura da Casa do Colegial. Assim como a Clementino Procópio, a Praça da Bandeira da década de 1940 harmonizava seu Art Déco com o todo o casario ao seu redor. Nos anos 1980 ambas foram transformadas, inserção de pedras portuguesas, os lagos extintos e a pérola da Praça da Bandeira, a estátua Samaritana, feita pelo artista Abelardo da Hora saiu de cena. Onde está a Samaritana? Por falar em ausência, a Praça Félix Araújo, no início da Rua João Pessoa (seguindo para o alto do Monte Santo), foi inaugurada em 1957 e não tem mais seu homenageado em bronze. Bustos de Raimundo Asfora (que deveria estar na entrada da cidade), estátua de José Américo, Luiz Gonzaga, dentre outras, sumiram dos olhos do povo. A antiga Praça do Algodão virou Praça João Pessoa, depois Ponto Central, e hoje é a Praça João Rique.


A Mãe da Ternura pintada de azul e antiga banca de Revista de Paulo (in memoriam)

Praça Edvaldo do Ó, Largo das Boninas

Uma curiosidade está na antiga Praça da Independência, no início da Rua 7 de Setembro, hoje Praça Alfredo Dantas. Ela era um terreno pertencente à Maçonaria e, sabendo que ali seria construída a sede da instituição um cidadão da família Borborema, morador de um palacete em sua frente (que existiu até a década de 1980, hoje é o banco Santander) fez a proposta de trocar um terreno seu na Rua Vidal de Negreiros, próximo a casa de Argemiro de Figueiredo por este. Após a troca, ele doa o terreno à municipalidade para a construção de uma praça por gostar daquela visão que tinha de sua varanda.


A última criada, derradeira homenagem, foi a Praça Edvaldo do Ó, aproveitando um canteiro nas Boninas. Você sabe onde foi a Praça do Cata-Vento? E a Apollo XI? Em qual praça houve uma chacina? Contaremos futuramente...


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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União de 16 de outubro de 2021.

399 visualizações2 comentários

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2 Comments


Marcelo Reul
Marcelo Reul
Oct 21, 2021

Que saudosa memória das nossas praças e suas histórias; o que percebi nesta crônica, foi a quantidade de sequestros de monumentos, que são retirados na calada da noite , ou até mesmo em plena luz do sol, e cai no esquecimento, gerando a impunidade. Lamentável estes desmandes sem qualquer interesse de solução do problema.

Parabéns Professor Thomas!

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Thomas Bruno Oliveira
Thomas Bruno Oliveira
Oct 21, 2021
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É verdade meu nobre! Sem um olhar atento, perdemos a cada dia nosso patrimônio. Obrigado pela leitura, grande abraço!

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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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