Para Carlos Antônio Gonçalves da Costa In memoriam
NO SÁBADO DIA 19 DE AGOSTO, logo cedo, tomei mais uma vez o rumo dos Cariris Velhos com a alegria de sempre. Estar naquelas terras é se conectar ao sagrado. Pudesse eu, compraria um sítio naquelas paragens históricas ou então uma casinha lá em Serra Branca, a Princesa do Cariri, sua condição geográfica me permitiria explorar meu Mundo-Sertão e suas terras sem fim para qualquer lado que fosse. De preferência que essa casa pudesse ser em frente a feira, para que de uma janela eu pudesse ver aquele interessante comércio repleto de cores, sons e cheiros e toda sua pureza. Estava frio que era uma beleza e o sol descansava em uma timidez que até parecia não querer sair. Fui ao Cariri, o Cariri de Timbaúba de Gurjão. Lá tinha um compromisso com o evento Cariri Cangaço Serra da Borborema, seminário muito interessante que reúne gente de todos os lugares.
O Cariri Cangaço é um conjunto coordenado de eventos itinerantes com o cunho turístico-cultural e histórico-científico que há catorze anos integra pesquisadores não só do cangaço, como também alguns temas correlatos como: coronelismo, misticismo, messianismo, artes e culturas ligadas ao sertão e ao nordeste do Brasil. Em Gurjão o evento foi acolhido pela Prefeitura Municipal e pelo Instituto Histórico e Geographico de Gurjão ‘Casa de Pe. Ibiapina’. O Prefeito José Elias e Carlos Antônio (Presidente do IHGG e Secretário de Meio Ambiente) fizeram as honras da casa além do simpático curador do Cariri Cangaço Manoel Severo Gurjel Barbosa e o amigo Julierme do Nascimento Wanderley da comissão organizadora.
A temática do seminário (realizado na Fundac) foi dedicada ao cangaceiro Antônio Silvino, o famoso ‘Rifle de ouro’ e uma das palestras mais concorridas teve o publicitário Rafael Borges como palestrante, nada menos que o bisneto do famoso cangaceiro que deixou marcas indeléveis em todo o Cariri, inclusive em Gurjão, onde o episódio da morte do Alferes Maurício na ‘Batalha da Lagoa de Pedra’ é uma das páginas mais emblemáticas justamente no auge de suas andanças, o ano era 1910. Rafael trouxe uma boa novidade, ele tem auxiliando sua mãe na escrita de um livro sobre Antônio Silvino. A obra, repleta de relatos minuciosos de seu avô, vem sendo ansiosamente aguardada pelos pesquisadores do Cangaço e certamente será uma importante contribuição aos estudos, a cultura e a história do interior do Nordeste. A previsão de lançamento é no primeiro semestre do próximo ano.
Para se ter ideia da relevância do evento ocorrido nos Cariris Velhos da Parahyba, foram recebidas delegações de Patos, Cajazeiras, Pocinhos, João Pessoa, Campina Grande, Soledade, Serra Branca, Picuí, Nova Floresta, Pombal, Serra Redonda, Tuparetama-PE, Serra Talhada-PE, São José do Egito-PE, Paulo Afonso-BA e Fortaleza-CE. Vários pesquisadores e pesquisadoras fortalecendo os estudos cangaceiristas e consolidando ainda mais os eventos sobre a temática. O próximo Seminário já está marcado e será realizado em Campina Grande, precisamente no Museu dos Três Pandeiros, no próximo dia trinta de novembro.
Outro espetáculo à parte foi a palestra ‘O Cariri Histórico’ do amigo Prof. Daniel Duarte que esmiunçou o coração e a alma Caririzeira, sem antes (trajado de vaqueiro) ter aboiado e cantado ‘Meu Cariri’, para a emoção de muitos. Também palestraram os pesquisadores Bismarck Martins de Oliveira, Fabiana Agra e Hesdras Souto, abordando desde a terra natal de Antônio Silvino até sua participação na literatura de cordel. Por fim, os participantes visitaram o recém-criado Museu Histórico Major Raulino Maracajá.
Entrei em um mundo novo. Não sou especialista na área, mas já nutria desde os bancos da universidade a temática do Cangaço. Voltei para casa enriquecido, com muitos livros no bisaco e o sabor gostoso de ter semeado uma série de amizades. Viva Gurjão, viva o IHGG, viva o Cariri Cangaço, viva o Mundo-Sertão.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A União em 26 de agosto de 2023.
Conta a minha mãe, Maria da Soledade, que o meu avô, Pedro Lourenço, quando tinha cerca de dez anos de idade, se deparou com o bando de Antônio Silvino. Meu avô estava sobre uma carga de aguardente, em um jumento, próxima a Alagoa Grande. Abordado pelo banco, foi inquirido sobre estava falando com ele. Evidentemente sabia com quem falava, mas não o conhecia pessoalmente. O que é isso que estás levando? É aguardente, respondeu. É boa? Dizem que é, respondeu, mas eu não acho boa não. Pediram que o meu avô provasse da aguardente e, mais uma vez, afirmou que não era boa. Acho que a intenção do cangaceiro era ver se não estava envenenada, uma vez que o um…
Se o texto pretendia mostrar a relevância do evento: missão cumprida com sucesso!
Fico muito feliz quando a relevância [que os mais dedicados ao tema atestam com base em elementos pertinentes e sólidos] é coroada com uma participação substancial, pois trata-se de um PROCESSO QUALITATIVO INTELECTUAL. E este tipo de processo é difícil de realizar e difícil de perpetuar.
O público em grande número não é o fator exclusivo da relevância, mas ajuda a motivar os sacerdotes da relevância à perseverarem.
E viva os preservadores, divulgadores e amantes de nossa história do cangaço nordestino.