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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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  • Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

De outros tempos


Fotograma do primeiro filme dos irmãos Lumière, “La Sortie de l’usine Lumière à Lyon” (A Saída da Fábrica Lumière em Lyon). Blog Ensinar História

NUNCA FUI um expert da sétima arte, mas um admirador às produções e seus críticos. Tenho as minhas predileções e isso não é de hoje, é de outros tempos. Os caminhos e descaminhos me conduziram a isso, uma criança pobre que por muito tempo foi refém da tevê aberta, sobretudo a sessão “Tela-quente”, que resiste e ainda é exibida nas noites de segunda-feira na Tv Globo. Quer dizer, noite mais não, quase madrugada! Naquela época, a novela era “das oito”, o filme por volta das dez, e o Jô era mais ou menos onze e meia. Havia também o “Cinema em Casa” no SBT, mas com filmes que não chamavam atenção, ou... jogar bola era mais interessante!


Na minha rua, os garotos tinham suas preferências: Chuck Norris, Sylvester Stallone, Jean-Claude Van Damme, Jackie Chan... Não tínhamos ao dispor as produções da Disney que só chegava à criançada em comerciais de brinquedos ou nos desenhos animados da manhã, justamente o período da escola. O sonho de alargar esse leque vinha com a aquisição de um vídeo cassete, coisa que ninguém possuía, só um garoto de vida mais opulenta, mais velho que a maioria, e chato! Melhor não dizer quem é, nem mencionar que ele morava em uma rua transversal à nossa...


Confesso que outra coisa me incomodava bastante, é que o formato dos meus olhos não são tão redondos, mas levemente puxados. Quando me perguntavam se havia um oriental na família, eu respondia que a vizinha do primo de uma amiga era japonesa, “deve ser por isso!” e todos sorriam. Mas o fato é que para assistir a Tela Quente, já naquela hora em que todos estavam recolhidos em casa, e a mercearia fechada, procurávamos todos uma posição confortável no sofá ou tapete e quase sempre, no melhor do filme, eu ouvia:


– Bruno, vá para a cama, você está dormindo!

– Tô não Papai, é sério. E dizia algum detalhe do filme. Mas como ao menino não existia a ousadia de enfrentar o Pai, tinha que ir esquentar o ninho e sonhar bem antes do desejado.


Aquilo me deixava muito triste e deixei de assistir muitos filmes por conta disso, mas nunca soube o porquê daquela atitude comigo, até que, mais velho, em uma situação semelhante, só que na companhia de uma namorada, ela veio devagar até meu rosto uma vez, na segunda disse:


– Achei que você estivesse dormindo, de lado vejo seu olho fechado. Eureca! Era isso que acontecia, foi por isso que fui dormir mais cedo muitas vezes sem merecer. E expliquei tudo a Seu Roberto:

– Tá vendo Papai? Caramba!

Daí passei a observar que em várias fotos em que estou longe, o olho parece fechado, fato negado após aplicar o zoom.


Fomos ter um vídeo cassete em casa depois de muitos anos, eu já adolescente. O curioso é que o controle não era remoto, existia um fio em que minha irmã distraída tropeçou algumas vezes, tinha uma ou duas cabeças somente. Temos o vídeo, certo, e as fitas VHS? Outra dificuldade, a locadora de excelência na cidade, que dispunha de filmes recentes, exigia uma indicação e um cadastro em que poucos tinham condições de cumprir. Nas viagens de férias para Recife - uma porção da família de maiores recursos - lembro que ia com tio e primos alugar filmes todas as sextas-feiras, locavam-se três e ganhava um de regalo, mas com uma condição, todas deveriam ser entregues na segunda-feira rebobinada e até o meio-dia, caso contrário, o bônus deixaria de existir. Achei que seria do mesmo jeito em Campina. Mas era! Vocês entenderam... Entenderam?


Minha sensibilidade para a história me fez fugir de muitos seguimentos, preferindo documentários, biografias e filmes baseados em acontecimentos reais. Acho até legal quem se encanta com os lançamentos, aqueles que além de surfar na onda da moda (e do Oscar), são fartamente divulgados, mas eu estou no caminho inverso. Até filme de produção iraniana já assisti.


Se antigamente dependia da tevê aberta, hoje é muito diferente. Tenho acesso a algumas plataformas de fluxo contínuo, o tal streaming, de assinatura mensal; uma de música que me oferta milhões delas, e como adoro música, até lendo, até escrevendo, até divagando; e duas com filmes e séries que se não tivermos cuidado, nos tomam todo o tempo que de tão corrido, quase não o vemos passar em suas singularidades, mas isso já é outra história.


Leia, curta, comente e compartilhe com quem você mais gosta!


Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União de 4 de junho de 2022.



196 visualizações3 comentários

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3 Kommentare


Marcelo Reul
Marcelo Reul
09. Juni 2022

Interessante !

Este seu relato parece que é tirado de minha história, e de muitos outros que, felizmente, viveram os anos 70 e 80, e se sentem retratados nestas descrições; uns mais, outros menos, mas, todos com o mesmo enredo.


Obrigado Professor Bruno; você nos faz reviver bons momentos.

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Marcelo Reul
Marcelo Reul
09. Juni 2022
Antwort an

Eu que agradeço!

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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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