A VONTADE DE VOLTAR e de ficar no Cariri foi imensa. Contei os dias, as horas e, finalmente, voltei. Com aquela ansiedade, aquele oco no estômago pela ânsia do compromisso e da presença. É que fui convidado por Daniel Duarte Pereira a palestrar na reunião ordinária do Instituto Histórico e Geographico do Cariri Parahybano, instituição que ele preside e organiza tudo e sou sócio “derna” de 2007. A missão a mim outorgada foi falar sobre: “Como se apaixonar pelo Cariri”. Amoroso que sou por essas terras, não tive como negar e fui.
Na direção, ou no volante da pick-up, o amigo advogado Marivaldo, hoje meu confrade no IHGC; também no carro o amigo Dr. Leidson Farias, sua amada Celeide Farias e o poeta Z’Édmilson. Dona Celeide, também advogada, nos relatava com emoção um determinado episódio em que atuava e numa indagação de um determinado desembargador, respondeu efusivamente que: “nada de grandioso se faz se não for com paixão!”. Ouvi aquilo em meio à imensidão da caatinga com atenção, com sua ternura tive emoção e meu respeito pela generosidade e força, vislumbrei toda aquela situação. Ela foi muito bem sucedida no caso e, assim como o escritório Leidson Farias, seu esposo, filhos e vários profissionais, compõem o escritório de advocacia mais longevo e profissional que Campina Grande já viu.
Chegamos a São João do Cariri, mãe de nossas terras caririzeiras, que se enfeitava para a festa de logo mais. Esse período de maio a junho é repleto de municípios que comemoram sua emancipação política, São João é uma delas. Na reunião, conheci João Piancó (do Pajeú), com seu livro histórico/genealógico de mais de novecentas páginas, João Paulo França (da Barra de São Miguel) com seus escritos sobre as ruas de Campina, lembrando Dinoá e Cristino Pimentel, e também seus escritos sobre Barra de São Miguel, seu sublime torrão. Conheci Carlos Costa de Timbaúba do Gurjão, secretário municipal de agricultura e amante da caatinga; revi muitos amigos e amigas. Logo após, tive a oportunidade, depois da palestra e da devoção ao Cariri, nosso Mundo-Sertão, de conhecer a Fazenda Cachoeira do confrade do Instituto Histórico e Geográfico de Serra Branca Álvaro Gaudêncio Neto. Por nós e pela intimidade, o chamamos de Alvinho; que na visita ao Museu histórico que fizemos, avistou Dr. Leidson e o convidou a almoçar em sua Fazenda, terras acatingadas e históricas, banhadas pelo Rio Taperoá e poços que jorram felicidade e fartura.
Tivemos a honra de ser recebido por Alvinho e Dona Lucinha, com uma simpatia sem igual. Ela leve, simpática e muito elegante, cuidou de todos os detalhes na varanda de sua casa, ambiente bucólico emoldurado por azulejos e plantas, um verdadeiro refúgio, tanto é que o Dr. Leidson fez questão de se arranchar em uma rede, relembrando o passado quando os balanços de rede embalavam os sonhos de adolescente n’uma Serra Branca antiga. Tirei seus sapatos e por um longo tempo, ele conversou, cochilou e descansou. Almoçamos um bacalhau e também um saboroso estrogonofe, ao mesmo tempo em que víamos na TV a repercussão da coroação do Rei britânico Charles III que tinha ocorrido logo cedo, o que rendeu uma boa conversa.
Três dias depois voltei ao Cariri, ao Bento do sítio Várzea Nova, que já denominei como “morada dos pássaros” e aqui cheguei com uma ansiedade de ver os sabiás, concriz, galos-de-campina, maracanãs, gangarras, casacas de couro, saguins, seriemas e outras espécies que tem como refúgio e lugar seguro de alimento o sítio de meu querido amigo/irmão Professor Zezito. Ao telefone me dizia: – Thomas, vem que o açude está cheio. E não é que está mesmo! Águas mornas, assanhadas pelo vento e repleta de peixes, amainando o calor abrasador e espelhando as nuvens do céu, mas que Cariri lindo! Tive a oportunidade de encontrar o amigo Valtécio Rufino, de Taperoá, e muito conversar. Como é bom acordar bem cedo, caminhar pelas veredas, o mato alto, árvores esbanjando beleza, Juazeiros, Aroeiras, Anjicos, Catingueiras e um sem número de outras maravilhas. Camaleões em cima de estacas, tejus dando susto na gente correndo de um lado a outro e as águas balançam. Como criança, joguei uma pedrinha que quicou em sua superfície até mergulhar. Minha amiga Zélia Almeida disse que todos os lugares podem ser eternos, e o Cariri é, é sim eterno, um mundo sem fim, um Mundo-Sertão...
Certa vez, o saudoso e querido amigo Pedro Nunes (que hoje brilha nos céus caririzeiros) em uma de nossas conversas disse: – Menino Bruno, o Mundo-Sertão tem um lado físico e outro figurativo, o primeiro está onde nossa vista alcança o segundo, dentro de nós, na alma, no coração. Realmente, pisar descalço nesse chão, misturando o barro de nossa existência com a terra daqui, é algo sublime, inesquecível, encantador. Viva o Mundo-Sertão, viva o Cariri que estará sempre em meu interior. E sábado é dia de feira na Princesa do Cariri, você acha bem que vou perder? Na verdade, vou me perder. Inté...
Veja também a crônica 'Mundo Sertão' no link
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A União em 13 de maio de 2023.
Grande reportagem! Parabens!
É isso mesmo Professor Thomas!
Só sabe o que é o Cariri, quem tem essa região dentro do coração.
Andar veredas, tomar banho de açude e comer as frutas colhidas no pé, e um verdade deslumbre.