Descrição Geral da Capitania da Parahyba
- Thomas Bruno Oliveira
- 23 de ago.
- 3 min de leitura

ELIAS HERCKMANS FOI UM DOS integrantes do grupo de artistas e sábios trazidos pelo Conde Maurício de Nassau Siegem ao Brasil durante a ocupação holandesa. Ele foi geógrafo, cartógrafo além de escritor. Enquanto Diretor (era assim que os holandeses denominavam o governador) da Capitania da Parahyba de 1636 a 1639, Herckmans teve a oportunidade de conhecer grande parte da planície litorânea pertencente à Capitania e seus primeiros contrafortes, com atenção especial às várzeas dos rios, principalmente o Parahyba e seus engenhos, isso em uma grande expedição que durou aproximadamente dois meses. Todo esse conhecimento holístico sobre essas terras foi transformado no interessante documento “Descrição Geral da Capitania da Parahyba”, escrito no último ano de seu governo e só publicado em 1879 (em holandês) com o título Beschrijvinge van de Capitanie Paraiba, traduzido em língua portuguesa, em 1884 por José Higino Duarte Pereira e publicado três anos depois na Revista do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano, hoje IAHGP (Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco).

Ele começa assim: “A Capitania da Paraíba, situada ao norte de Pernambuco, é uma das principais províncias do Brasil [...] Em águas, ares e fertilidade é esta Capitania uma das regiões mais saudáveis do Brasil”, vejam só que descrição... No relatório, Herckmans tem a preocupação de descrever o meio, o homem e os mais diversos aspectos da Capitania. Seu documento é subdividido basicamente em três secções. Na primeira, ele aborda principalmente a cidade de Frederica (atual capital João Pessoa) e seus arredores imediatos, onde descreve e caracteriza mosteiros, fortes, igrejas, acidentes geográficos e alguns prédios da cidade; é nesse momento em que ele pontua os currais de gado e descreve os principais rios e seus afluentes, abordando etimologicamente as nomenclaturas indígenas dos rios e serras, atribuindo-as à lendas e costumes dos “gentios”, cujas denominações temos até o presente, como podemos citar: Mamanguape, Copaóba, Tibiri, Miriri, Gramame dentre outras.
Na segunda secção do texto, Herckmans aborda a "fertilidade da capitania", descrevendo todo o potencial ambiental, principalmente o recurso florístico. Seu clima, suas águas, seus canaviais e todas as culturas agrícolas existentes são abordadas, fazendo analogias pertinentes como ao afirmar que a farinha de mandioca era o pão dos nativos. Os frutos da Capitania são assemelhados aos melhores do mundo como o figo de Portugal e a fava holandesa; o damasco é comparado a nossa mangaba que para ele é completamente semelhante e ainda diz: “Interiormente tem alguns caroços, como a nêspera, mas em maior número. É uma das frutas mais agradáveis do Brasil”. O caju, “além de ser mui próprio para matar-se a sede, tem na extremidade uma castanha que contém um certo óleo entre as duas cascas superiores; esse óleo é tão picante e penetrante que, caindo no beiço de alguém, caustica e abre um buraco imediatamente; contudo é próprio para arder em lâmpada. A dita castanha, sendo assada, é excelente para se comerem em lugar de pão; é mui mais gostosa do que as amêndoas”.

Na terceira e última porção do texto, ele enfatiza uma breve descrição a cerca da vida e dos costumes dos Tapuias (indígenas do interior) admitindo a existência de outras nações além dos Tupi (Potiguara e Tabajara); nesta parte, ele localiza e descreve atentamente diversos aspectos dos índios Tarairyou (Tarairiús). Estes são descritos minuciosamente, desde os aspectos físicos até os instrumentos de caça e guerra.

Herckmans tem o cuidado de detalhar tudo que está vendo de maneira atenta e minuciosa, clara e objetiva, com um poder de descrição e noção de território incríveis, talvez este documento tenha sido produzido como um relatório para que a Companhia da Índias Ocidentais pudesse apreciar pormenorizadamente, proporcionando o conhecimento de tudo que há nesta terra para assim poder explorar integralmente da melhor maneira. Em 1641 ele produziu outro relatório que, até o momento, está desaparecido. Nele, está contido incursões pela atual região dos Cariris Velhos em busca de metais preciosos. Esse será um tema para outra crônica.
Este documento é de muita importância para se entender não só o processo de colonização bem como todo o contexto em que esteve inserida a Capitania da Paraíba, além de compreender como fora o período de domínio holandês em território brasileiro.
Leia, curta, comente e compartilhe com quem você mais gosta!
Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A UNIÃO em 23 de agosto de 2025.
* Imagem extraída de: A paisagem cultural da Capitania da Parahyba, Brasil, na ótica da iconografia do período colonial. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural [en linea]. 2017, 15(1), 139-162[fecha de Consulta 28 de Abril de 2020]. ISSN: 1695-7121. Disponible en: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=88149387009
Excelente! Agradeço a essa prestimosa indicação do professor Thomas que foi uma das obras que alicerçaram a produção do meu TCC de minha graduação em história. Uma das mais importantes obras da história do nosso passado colonial!