“Eu fui pra Limoeiro e gostei do forró de lá”, assim cantava nosso ilustre Jackson do Pandeiro no seu primeiro disco solo em 1953, belíssimo coco do pernambucano Edgar Ferreira. Quando ainda não estávamos atolados na pandemia, há alguns anos, tive a oportunidade de conhecer Limoeiro, no interior de Pernambuco. Não vi forró mas gostei do que vi por lá. A Princesa do Capibaribe está distante 78km de Recife e 119km de Campina Grande-PB, meu ponto de partida.
Sem um guia, para não ficar triste, pensei ser mais seguro ir pela ‘Rua da Alegria’ rumo ao centro, caminho que me levou até o terminal rodoviário e a banca de jornal de Seu Beto, um simpático senhor com seus cinquenta e poucos anos. Dali avistei no alto da colina a estátua do Cristo Redentor na companhia de algumas antenas, julguei que dali seria o melhor lugar para apreciar a cidade (e era mesmo!). Comprei o Diário de Pernambuco e o Jornal do Commércio na banca e recebi as instruções de Seu Beto de como subir o outeiro. Segui, cheguei ao imponente prédio da Prefeitura Municipal, uma construção eclética com pesada influência do neoclássico, suas senhoras colunas gregas dão charme e nobreza ao palácio, ele está defronte ao pátio de eventos Toinho do Limoeiro que estava repleto de tendas padronizadas, porém vazias, resquícios da feira no dia anterior.
Ao lado esquerdo do Palácio Municipal está a igreja de Santo Antônio e adiante a subida para o Cristo. São aproximadamente 850m de ruas estreitas e íngremes, porém calçadas. Todo o lugar é habitado, estava eu no bairro Redentor. O povo simpático e hospitaleiro saudava e indicava o caminho a ser seguido; mais alguns metros e tomamos uma estrada de terra, isso já no cume da serra. Com aspecto rural, aquelas últimas casas do bairro estavam povoadas por gansos, porcos e toda sorte de víveres confinados em pequenos currais. As cercas delimitavam a estrada e o Cristo, que já estava próximo, toma conta do nosso olhar. De braços abertos, a quase 300m de altitude, o Redentor abençoa toda a cidade. Difícil não se encantar por aquela vista panorâmica. Como é apaixonante aquela paisagem.
Após respirar fundo aquela deliciosa brisa, nosso olhar vai ganhando o horizonte. O majestoso vale do médio Capibaribe se descortina, sua mata ciliar entre as ruas denuncia a sua passagem cortando a cidade em duas porções. O verde só é rompido pelas pontes velha e nova. Nesta afortunada visão, é possível identificar a Matriz, o Estádio de futebol José Vareda (onde o alvirrubro Centro Limoeirense manda seus jogos), o antigo prédio da Sociedade Algodoeira do Nordeste do Brasil – SANBRA, o antigo açougue municipal, a Prefeitura, o cemitério, o mercado público, a Praça da Bandeira, é possível ver a expansão da cidade para o sul (após o Rio) através de loteamentos, enfim... Limoeiro está ali nas nossas mãos (ou melhor, ao alcance de nossos olhos).
Aos pés do Cristo, há uma longa escadaria serra à baixo com inúmeros degraus, caminho que deve ser seguido por penitência (e com cuidado), pintados em amarelo, azul e vermelho (o parapeito das pontes também é pintado nessas cores), a escadaria dá um colorido à serra e adentra ao coração do bairro.
Com esse domínio espacial, ficou muito mais fácil andar pela cidade sem guia, desci. Desci lentamente, soltando o pedal do freio aos poucos, apreciando a meninada brincando, homens consertando desde cadeira a carro nas calçadas e toda a espontaneidade daquela manhã de domingo. Passei (e fotografei) o ‘Bar da Gaia’ que segundo o seu proprietário é um dos lugares mais frequentados do bairro; me dirigi à Praça da Bandeira e em seus bancos pude ler os jornais. Agradável aquela calmaria. Na praça algumas crianças brincavam, pessoas conversavam, moto taxistas riam desfrutando de uma roda de piadas. Por falar em moto, vi várias mulheres andando em garupa sentadas de lado, achei curioso não só a quantidade como também o fato de mesmo estando de calça comprida, aquele modo de andar parecia um padrão, complementando a posição estavam as mãos firmes nos ombros (ao invés da cintura) dos condutores. Fui à neogótica Matriz de Nossa Senhora da Apresentação e de São Sebastião, lugar em que no séc. XVIII uma imagem de Nossa Senhora da Apresentação apareceu oculta em um Limoeiro, episódio que deu nome e padroeira a então aldeia indígena. Em seguida fui conhecendo um a um o patrimônio da cidade.
Encravada no Agreste e com seus mais de 56 mil habitantes, Limoeiro é uma das belas cidades do interior pernambucano. Espero voltar a Limoeiro e desta feita que eu veja “um caboclo brejeiro tocando sanfona” e eu entre no “fuá”.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União de 19 de fevereiro de 2022.
Parabéns Professor Thomas!
A crônica de hoje foi bem nostálgica, pois iniciou e findou com versos da música de nosso paraibano Jackson do Pandeiro; mas, o que mais me chama a atenção é a forma poética como o escritor descreve os detalhes e nuances da cidade de Limoeiro; o que nos faz transportar para aquele mundo, dando mais ênfase e interesse pela leitura.
Parabéns!
PS: Como sugestão para a próxima crônica, gostaria de ver alguma coisa sobe o carnaval, tipo: Papangú, boi de carnaval, lança, bomba de cano, ou seja, o carnaval popular de nossa época.