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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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  • Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Expedição ao Rio Grande do Norte

Vista serrana da Borborema potiguar

Certa vez estive em expedição ao município de Santana do Matos, no vizinho estado do Rio Grande do Norte, com o objetivo de acompanhar uma atividade de salvamento arqueológico na necrópole indígena Serrote dos Caboclos, empreendida pela equipe do Laboratório do Homem Potiguar (da UERN/Mossoró) coordenado pelo Prof. Valdecí dos Santos Júnior.


O sítio arqueológico está localizado no povoado denominado Tapuia, um agrupamento de casas soltas por onde se acessa a serra dos Caboclos, uma formação do cristalino soerguida em forma de ‘U’, ligando-se a outras serras do complexo de Santana. Trata-se dos primeiros contrafortes do Planalto da Borborema Potiguar, região cuja densidade de testemunhos pré-históricos é elevada e o atual vazio demográfico é desafiador.


A caminhada se deu em meio a uma vegetação arbustiva, sem nenhum indício de trilhas, veredas ou caminhos e assim, investimos na subida. A encosta íngreme da serra aniquilou a resistência da equipe, que subiu com dificuldade. Pernas ‘bambas’, respiração ofegante e a garganta por vezes colada eram alguns dos indícios de que a empreitada exigira bastante da resistência física e psicológica da equipe. Olhávamos para trás (na verdade para baixo!) e víamos o mundo aos nossos pés, impressão evidenciada pela longa planície a oeste, onde está assentada a região do Seridó norte-rio-grandense; distante dali, o Pico do Cabugy, imponente, riscava a paisagem. A caminhada parecia que não findaria. Furadas em espinhos de cactos, escorregões na terra solta do arvoredo e os blocos rochosos que teriam que ser ascendidos, dificultava ainda mais o percurso, além da incerteza do guia, que por vezes andou sozinho para relembrar o caminho correto.


Caatinga inóspita, Serra do Complexo de Santana

Finalmente chegamos ao cume da Serra, onde encontramos o sítio arqueológico Serrote dos Caboclos, uma furna composta por um afloramento granítico contendo uma abertura em parábola com 3m de largura e 6m de profundidade, voltada para oeste. O solo da furna é ligeiramente inclinado no sentido entrada/saída da furna. No “frontispício” do abrigo, existe um difuso painel de inscrições rupestres na coloração vermelha, composto por algumas poucas manchas; no interior, até a porção desnuda de sedimento, não existe quaisquer indício de pintura.


O solo é extremamente arenoso, fino, desprovido de umidade e a própria furna é completamente protegida da chuva e do sol e, este último, só adentra cerca de 1m durante o entardecer. Estas características induzem que os vestígios pré-históricos estejam um pouco mais preservados.


Não se sabe se em todo o interior da furna há enterramentos, no início dos trabalhos, vários testemunhos arqueológicos figuravam na superfície, tais como ossos diversos, inclusive um osso longo com pinturas em ocre; uma pequena organização que sugeriria um colar ou pulseira composta por fibras, tendo como contas uma espécie de semente; além de carvões e cabelos.


Equipe expedicionária

Soubemos através de populares que o sítio pré-histórico tem sido profanado desde os anos de 1940/50 por leigos que supostamente buscavam ‘tesouros’. Este ato foi totalmente pernicioso para o sítio, pois o revolvimento de solo descontextualizou a localização dos achados comprometendo qualquer análise cronológica, triste destino de várias necrópoles do interior do Nordeste.


Findamos a expedição no fim da tarde. A exaustão que nos desolara foi plenamente recompensada por um lindo pôr do sol, tons rubros se esmaeciam no horizonte, pintando de sombras o Pico do Cabugy e outras serras ao longe. Uma dádiva da natureza.


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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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