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TURISMO & HISTÓRIA

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  • Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Lembranças de infância


Curtume São José e porção do Açude Velho - RHCG

CERTA VEZ, na Prefeitura de Campina Grande, estive conversando com a simpática servidora Maria Marques Guimarães, ou Graça (Gracinha) Guimarães, como a chamavam carinhosamente seus colegas de repartição. Relatando histórias de infância, ela relembra banhos n’um açude no coração de Campina, o Açude Velho, para onde afluíam muitos jovens no intuito de deleitar-se nas águas do Riacho das Piabas que, serpenteando a cidade, repousava tranquila naquele remanso, formando um bonito espelho d’água e refrescando quem por ali passava.


“Mais era bom...”, exclamava Graça muito emocionada, com um sorriso que apertaram seus olhos até gotejar algumas lágrimas. Na lembrança revivia aquela época em sua mente. “Ao lado do ‘Curtume dos Mota’ existia de tudo”, ali era o parque de diversões de muitas crianças e jovens da região que se divertiam nas águas do riacho, por muitas vezes bem mornas devido ao líquido quente expelido pelas caldeiras do Curtume São José, que esteve à vapor na cidade por várias décadas no lugar em que encontramos atualmente o Parque da Criança. Testemunho do antigo curtume é a grande chaminé, que, imponente, engrandece e embeleza o parque além de fazer a cidade lembrar de seu primeiro parque industrial.



O Açude Velho fica pronto em 1830 segundo Irineu Pinto em suas ‘Datas e Notas para a História da Paraíba’ (1908), assegurando a sobrevivência e importância da então Vila Nova da Rainha por muitas décadas, como afirma Elpídio de Almeida em ‘História de Campina Grande’ (1962). Ao seu redor funcionou um verdadeiro distrito industrial na primeira metade do século XX, empreendimentos que beneficiavam principalmente o algodão, o sisal e o couro. Diversas indústrias ali se instalaram para ‘beber suas águas’ e uma delas foi o ‘Curtume dos Mota’ (o São José), relembrado com saudosismo por Graça. “Naquelas pedras (que hoje não mais existem devido ao desenvolvimento urbano da cidade), tinha uns letreiros...” disse. Sem recordar com exatidão, Graça não sabe dizer o que tinha ali gravado nem onde era exatamente a pedra. Estes ‘letreiros’ seriam vestígios de populações pré-históricas que viveram há várias centenas de anos antes do colonizador aqui chegar? Evidências de um longínquo passado? É bem provável que sim!


Açude Velho e o desmonte da chaminé da Caranguejo em 2010

A região onde hoje se encontra Campina Grande era banhada por alguns riachos que muito provavelmente eram perenes em sua condição primitiva e selvagem, caso do Riacho das Piabas (hoje Canal das Piabas e Prado) e o Bodocongó. Certamente o nativo buscou nos rios e riachos a fonte da vida e é exatamente no leito destes que os grupos humanos, por muitas vezes, deixavam gravados ou pintados nas pedras vestígios de sua cultura, as inscrições rupestres, denominadas em todo o interior como ‘letreiros’ ou também como Pedra Lavrada. A propósito, um registro histórico dá conta da existência de uma “pedra lavrada”, exatamente uma carta de doação em 1790 do então vigário de Campina Grande, padre João Barbosa de Góis Silva, cedendo ao Santíssimo Sacramento uma porção de terra na sua Data de Pedra Lavrada, próximas à Vila (que era nos arredores da Matriz) passando a denominar-se “Terras do Santíssimo” onde hoje é parte do que é o bairro do Catolé (se encaminhando para o Canal do Prado, ou seja, o Riacho das Piabas). Vemos então que a informação de Graça Guimarães pode combinar com esse registro histórico.


Gracinha (verde) ao lado da amiga Janeide. Hoje as duas estão com Papai do Céu.

Seriam mesmo estes ‘letreiros’, relembrados por Graça, vestígios de populações primitivas e esse lugar foi chamado de pedra lavrada por conta de letras enigmáticas nos rochedos que margeavam o rio? Certo mesmo é que no tocante a testemunhos da pré-história, esta região possui uma riqueza incalculável e as inscrições das cercanias do curtume tiveram o triste destino de muitas outras: a destruição, sendo hoje alvo apenas de conjecturas históricas.


Gracinha Guimarães hoje está na paz celestial e um pouco de sua infância repousa aqui como registro para a posteridade.


Leia, curta, comente e compartilhe com quem você mais gosta!


Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A União em 29 de abril de 2023.

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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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