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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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  • Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Não comemorei!


Frame da batida de penalti - Instagram Oficial do Treze FC

NÃO. NÃO COMEMOREI a vitória do meu alvinegro, do Treze Futebol Clube, o mais querido aqui em nossas terras. Não me dei ao desfrute, apesar da importância que foi aquele jogo realizado no estádio Ernani Sátyro, ‘O Amigão’ no último domingo dia 3 de março. Não comemorei depois da cena que presenciei com a inteireza de todos os seus detalhes. Não tive “estômago” em comemorar um gol sequer, e foram três, aumentando ainda mais a importância daquela vitória, pois em um campeonato de “tiro curto”, até o saldo de gols é de suma importância para a classificação para as semi-finais.


Não. Não comemorei. Nem tinha como comemorar. Cheguei ao estádio na companhia de meu amado pai Paulo Roberto e minha tia materna Adriana Telma. Habitualmente, por conta do estacionamento e evitando qualquer tumulto, Papai prefere chegar cedo. A movimentação fora do estádio era grande, afinal o Galo da Borborema vive uma fase de reconstrução, foi campeão parahybano ano passado e tem boas perspectivas de futuro. Daí o verdadeiro frisson fora. Carros tocando o hino do clube, outros com o contagiante swing do axé de Chiclete com Banana.


O 'QR Code' de nossos cartões de sócio torcedor foram as senhas para entrada. Passamos pela revista da segurança, sob supervisão da Polícia Militar e seguimos pelas duas fileiras de degraus até ter acesso às arquibancadas. Escolhemos o lugar para acento e, enquanto Papai sintonizava a rádio de sua preferência para ouvir os detalhes do jogo, minha tia e eu conversávamos. É quando avistamos na arquibancada oposta, a geral, um brusco movimento de dois bombeiros civis. Com ela comentei: “Não seria um treinamento?”. Observamos. No desenrolar daquela cena, os bombeiros trouxeram nos braços um jovem até a margem do campo onde há uma pista de terra, nela estava estacionada uma ambulância. “Estás vendo duas pessoas atrás da ambulância com jeito de estar desesperado? Alguma coisa séria está ocorrendo” disse minha tia. Em instantes, enquanto protocolarmente tocava o hino da Parahyba, com o Treze e o bom time de Pombal em campo, um bombeiro civil corria para o banco do Treze, acreditamos que naquele momento o médico do alvinegro ia ser acionado. A ambulância vem, momento contínuo em que mais de cinquenta crianças estão no gramado abraçadas aos jogadores. Muitas delas tão pequeninas, anjinhos que ensinados pelos pais davam sequência ao amor herdado de seus pais e avós pelo gosto a um time de futebol.

Homenagem feita pelo Treze no jogo seguinte

Instantes após, as torcidas organizadas vibravam, se uniam em cânticos de amor ao seu time, só quem é apaixonado por futebol que tem a real noção do que isso significa. Apesar de alheias ao que estava ocorrendo. Momento em que a ambulância estaciona exatamente em nossa frente. Um jovem ligando de seu celular, senta no chão em um desespero que parecia anunciar uma péssima notícia. Chegam dois médicos do SAMU, adentram a ambulância e saem sacudindo a cabeça negativamente, nada poderiam mais fazer. O desconforto da equipe de bombeiros civis e militares e de quem o acompanhava era comovente. Minha tia olhou para mim arrepiada e com os olhos marejados disse: “acho que a pessoa morreu”. O jogo já havia iniciado, os dois times procurando seu rumo, é quando vemos uma mulher correndo em direção a ambulância, supomos ser a mãe daquele garoto, e era! Na ambulância, o bombeiro fechou a janela em respeito àquela despedida trágica. Logo após, na companhia de um funcionário do apoio, chega um homem desesperado com dois capacetes nas mãos e encontra o que presumimos ser seu filho na ambulância.



Meu Deus, que cena triste! Chorei o primeiro tempo inteiro. Naquele momento só o IML poderia agir. O motorista da ambulância a levou para o estacionamento do estádio para que a situação não fosse ainda mais chocante e a família fosse em parte preservada em seu luto.


Fim do primeiro tempo o meu TREZE faz 1x0, não comemorei. No segundo tempo faz mais dois. Um de pênalti e outro uma pintura de um jogador estreante, ala Romário, dá o famoso “totózinho” por cima do goleiro. Não comemorei e só me vinha na mente aquela família, aquele jovem. Rafael Rodrigues da Silva tinha vinte anos e na noite do domingo o Treze fez uma nota de pesar onde disse: “Todos os torcedores do Treze que o conheciam, fizeram questão de lembrar que Rafael era um torcedor fanático, não perdia um jogo do Galo, e que estar no estádio pra torcer com seus amigos era uma de suas maiores alegrias. Hoje, nos grupos dos amigos, Rafael escrevia que tudo o que queria eram os 3 pontos da vitória”. Ano passado, um jogo na Argentina e outro na Espanha foram interrompidos pela morte de um torcedor. Na Espanha, Granada e Athletic de Bilbao foi suspenso após um mal súbito de um torcedor. O jogo de domingo deveria ser interrompido. Treze 3x0 Pombal, resultado excepcional, mas não comemorei!


Rafael, que Deus te dê o céu. Os três pontos vieram e você jamais será esquecido.   



Leia, curta, comente e compartilhe com quem você mais gosta!


Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A União em 9 de março de 2024.

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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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