
PARECE QUE EU TENHO na memória a sequência de cidades que passo até chegar aos confins da Parahyba. Ir para o sertão é uma viagem incrível. Soledade é o primeiro município, logo ali depois do distrito de paz de São José da Mata. Mas ela é tão longe que para meu querido amigo Professor Juvandi de Souza Santos, é a cidade mais longe do estado, chegando em Soledade, em quinze minutos estamos dentro de Cajazeiras (risos). Essa brincadeira é por demais engraçada pois a distância entre Campina e Soledade é a maior, em seguida temos cidades sucessivas que dão a impressão de proximidade.
Depois temos Juazeirinho e a imensa Serra dos Borges, Junco do Seridó e sua majestosa Serra do Brennand (sobrenome de gente de posses em Recife-PE), depois da entrada de desterro e a Taperoá de Manelito e Ariano Suassuna, descemos muitos metros em oito quilômetros a gigantesca Serra de Santa Luzia que vai ficando para trás após sinuosas curvas. Lá embaixo, temos a planície sertaneja e os morros testemunhos, os inselbergs como diria o saudoso amigo prof da UFPB Rosa em seu bigode e cabelos brancos. Dali temos Santa Luzia, a entrada de São Mamede e o apetitoso restaurante de Bergue ‘O Carreteiro’, Patos, Malta e Condado e as principais Pombal, Aparecida e Sousa, com seu imenso portal com dois dinossauros quase encostando os “bicos”.

Chego à Sousa-PB, a cidade sorriso, como está quente nossa querida Sousa. 41°C de temperatura e a sensação térmica de 44ºC. Na pousada a água do chuveiro é quente, lembrei das minhas estadias em Mossoró. Já em Sousa, vou de imediato a casa do meu querido amigo Luiz Carlos Gomes, na companhia do arqueólogo João Rosa e da jornalista Bruna Steinbach. Fomos ali amealhar um pouco da sabedoria desse ilustre pesquisador, queríamos saber seu estado de saúde e se poderíamos contar com a sua presença não só na I Feira de Energias Renováveis da UEPB, como na recepção de escolas públicas no Vale dos Dinossauros.
De imediato, Luiz Carlos nos aparece com um folder do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) com fotografias de um museu nos Cariris Cearenses e ele mostrou com insatisfação: “O ex presidente acabou com todos esses museus”, uma tristeza para todos. A nossa paleontologia sendo relegada a um valor abaixo do que se merecia. Questionei Luiz, ele estava revoltado, mas são as ações governamentais.

Luiz estava muito bem, motivado e com a sensibilidade à toda a prova. O conheço há uns vinte anos, sempre sensível e com uma vontade imensa na dedicação às pegadas existentes em sua cidade. Não havia nenhuma estrutura, nem sequer o tombamento do Vale dos Dinossauros e ele já celebrava aqueles rastros e guiava visitantes. No longínquo ano de 1975, ele encontrou uma pegada “de uma galinha gigante” e apoiou as pesquisas do padre italiano Giuseppe Leonardi. Ali foi o início de tudo e o caçador de pegadas de dinossauros usava seu tempo livre para descobrir novas pegadas além de ajudar todos os pesquisadores que nas décadas seguintes se embrenharam nos torrões de Sousa, Uiraúna, São João do Rio do Peixe e em toda a bacia sedimentar do Rio do Peixe. Foi assim que nos conhecemos, foi aí que surgiu nossa amizade.
Na sua gentileza e fino trato, Luiz sempre nos recebe. Impressionante sua alegria, energia e o desprendimento em atender a qualquer pessoa que apareça no Vale dos Dinossauros. Ele muito me ensinou, muito me diz em seus gestos, sua idade e o ato fundamental de preservação não só do Vale como também as pegadas existentes em toda a região do Vale do Rio do Peixe e em 2016 ele encontrou um fóssil de dinossauro, contrariando a máxima que reza: “onde tem pegada, não tem fóssil e eu defendi que aquele achado pudesse levar seu nome.

Foi um dia todo de interação e o secretário executivo de Ciência e Tecnologia (SECTIES) Robson Rubenilson, de nossa querida Picuí, estava junto conosco, conversando com Luiz Carlos e conhecendo a sua história, dos primeiros achados na década e 1970 ao grupo Movissauros já nos anos 1990. Aquela conversa no Monumento Natural Vale dos Dinossauros foi incrível. Conhecemos muitos detalhes do processo histórico por qual passou o Vale e assim os anos passam e o caçador de pegadas continua no seu mister e aqui faço reverência a esse monstro sagrado, Sousa e a Parahyba lhe deve muito. Amigo Luiz, um salve para você.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A UNIÃO em 30 de novembro de 2024.
Eita que esse trajeto eu faço desde criança! Sousa/São Gonçalo é meu caldo primordial.
Ademais, ressalte-se que a ciência e a cultura precisam inegociávelmente de muitos Thomas e muitos Luís Carlos - não só pelo domínio dos conhecimentos de suas áreas, mas pelo entusiasmo e convicção.