VIAJAR É ALGO que tem um quê de encantador. A possibilidade da descoberta de novos lugares é sempre desafiadora, bem como o revisitar, pois como pensou o filósofo Heráclito de Éfeso: “Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem”.
Estive novamente no meu Mundo-Sertão, desta vez o meu destino foi o que o IBGE denominou de Alto Sertão da Parahyba, mais precisamente os municípios de Sousa e São João do Rio do Peixe (antiga Antenor Navarro). Para tanto, segui estrada ainda muito cedo, a sombra da noite aumentava a sensação de frio, ainda mais porque uma densa névoa nos envolvia. Ao passar pelo distrito de São José da Mata e subir a “boca do Cariri”, o céu vai se abrindo lentamente, fazendo o espírito despertar.
O ambiente é bastante familiar, sou capaz de copiar no papel com olhos fechados muitos daqueles contornos serranos. Primeira parada é o município de Soledade e não me canso em admirar a sua arquitetura antiga e como a atual pintura da Matriz de Nossa Senhora Sant’Anna está valorizando os seus mínimos detalhes. Ali mesmo, na área central, lamentei saber que o querido amigo e Professor Juarez Filgueiras de Góis não se encontra muito bem de saúde, o impedindo de suas atividades no Casarão Ibiapinópolis, um verdadeiro farol da memória municipal. Juazeirinho minha nova terra; Junco do Seridó com sua imponente Serra do Brennand e as torres da Matriz que parecem estar em eterna reconstrução.
O parque eólico que se avizinha parece uma grande brincadeira de criança. Ao cruzar a via férrea aqueles cata-ventos vão ficando cada vez mais próximos e um momento muito esperado por mim é a descida da Serra de Santa Luzia, 8km de curvas sinuosas que parecem um portal. Descer rapidamente o planalto naquele ponto nos projeta ao pediplano sertanejo com aqueles inselbergs, os morros testemunhos que atestam a mudança geológica durante os milênios. Destes, o Pico do Yayu e a Serra de Picotes são formações que recolhem uma beleza especial. Depois de Santa Luzia e São Mamede está a “morada do sol”, a bela cidade de Patos e todas as outras que se apresentam ao longo da BR-230: Malta, Condado, a importante Pombal, Aparecida, até chegar a Sousa. Finalmente conheci um monumento que é sucesso nas redes sociais, o gigante portal feito por dois dinossauros sauropodes. É realmente interessante e por todas as vezes que ali passei tinha alguém o fotografando, quer seja um viajante ou mesmo alguém que por ali pratica sua caminhada.
A “cidade sorriso” estava quente, mas não como em outras vezes. Fiquei a observar suas ruas limpas e seu comércio bem animado, além da explosão de coisas em alusão aos dinos por todos os lugares. O trânsito foi o que mais me assustou. Carros e motos surgem aos montes e as pequenas rotatórias pareciam seguir um ordenamento próprio. A hospedaria escolhida foi no bairro Gato Preto, e como não poderia deixar de ser, tem o nome Dinossauro. À moda de antigas construções, possui um pátio interno, ao centro, onde funciona a garagem, todo circundado por quartos no térreo e no primeiro andar. Estando às margens da PB 391 (Rua Manoel Gadelha Filho) na porção urbana da cidade, escolhi um quarto que desse para a varanda na frente do prédio. Acima do chão, foi a oportunidade de observar a rua e o movimento da urbe, ali ao lado do canal estreito. Já nos aposentos, os sons vindos de fora davam a ideia de que a cidade demorava a dormir. Feliz fiquei em saber que a antiga estação ferroviária está sendo restaurada e em breve será um interessante equipamento cultural.
Na viagem, tive a oportunidade de conhecer a vizinha São João do Rio do Peixe. Vários prédios centenários e a pomposa Igreja Matriz de 1863 atestam sua antiguidade e importância histórica na região do Vale do Rio do Peixe com colonização dos Garcias d’Ávila da Casa da Torre da Bahia. Em muitos municípios da região vemos uma composição de muita beleza que é uma praça central defronte a igreja com uma torre do relógio. Em São João se observa essa mesma configuração. De ar bucólico, é comum ver famílias nas calçadas vendo o tempo passar embaladas por uma boa conversa.
Na volta, a Planície Sertaneja se despediu com um belo por do sol, que como dizer até logo, rapidamente se escondeu no horizonte.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A UNIÃO em 17 de agosto de 2024.
No momento em que fiz a foto (a última dessa publicação) senti dois tipos de saudades. A saudade por estar indo embora com a vontade de ficar, e a saudade de casa com a vontade de chegar. Ótimo texto.
Professor Thomas!
Obrigado por esta viagem imaginária ao nosso alto sertão paraibano.
A paraíba é minha árvore. E na terra quente de São Gonçalo / Sousa estão minhas jurássicas raízes.