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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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  • Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Sumiço no Mundo-Sertão


Serra da Matarina - Prata-PB

Essas terras tinham passado pela última grande seca de fins do século XIX. Aqueles anos, aquela época, o povo do norte estava muito sofrido. Não só as grandes estiagens como também as epidemias de “Cholera Morbus”, a cólera ou “o cola”, como diziam os matutos. Na primeira invernada muito boa, a caatinga respondeu só com o cheirinho da chuva que se anunciava. Repare só n’uma coisa, a nascença das plantas, do mato, nesses pés de serra da Borborema, o renascer da vegetação nesse Mundo-Sertão é impressionante e as estações predispostas ocorrem apressadamente em semanas. A explosão verde logo dá espaço às flores e ao reproduzir destas quase quatro mil espécies que existem no semiárido. Parece até que estou ouvindo o velho, saudoso e querido Manelito Dantas da Fazenda Carnaúba. Aliás, seus parentes, que estão ali assentados desde 1791 sabem bem o que é conviver com a seca.

Ali, por aquelas terras, cordões de serra que seguem Cariri a dentro, o matuto nem ligava quem era “Dompêdo”, se era império, muito menos que ano era, só que era sim da graça do nosso Senhor. A sobrevivência nesse rincão inóspito, logradouro circunscrito de rochedos, granitos e gnaisses que abrigam toda sorte da flora e fauna sobrevivente, era a única coisa a que os viventes se valiam... Dos animais de pasto, a boiada e a “bodaiada” começava a engordar e os vaqueiros que resistiram a grande seca na região, se ocuparam nos restos de criação. Era uma época em que esse mundão de meu Deus não tinha um mourão de cerca. Isso é coisa de hoje. Antigamente se media a propriedade nas léguas que se podiam ver, légua de beiço e não tinha tanta confusão, herança das sesmarias com seus marcos nos riachos, serrotes e serras.


Pois bem, o povo dessas terras se organizava na lida com as criações. Agricultura não dava pra medir, pois a chuva era recente e ninguém sabia se era demorada. Enfim. Compadre Zeca, morador daqueles rincões, resolveu fazer um portal na fazenda, para embelezar a entrada, acolá na ponta da rodagem. Era negócio de oito da manhã e ele partiu para aquele mister, antes recomendou a sua companheira: – Gerusa, quando tiver uma comidinha, mande Joaninha levar pra mim. – Tá certo, mando sim, respondeu.


Já eram quase onze da manhã quando ele voltou, esganado de fome e questionou: – Ou mulher, eu quase morro de fome fazendo aquela entrada de propriedade e você não me mandou nada pra comer? – Mandei sim, Joaninha levou. – Oxente? Ela não chegou não... –Como ela não foi? Foi sim Zeca! E houve aquele desespero. Um grande movimento ali entre as vilas de São João, Batalhão e Joazeiro se fez. Jacinto, um dos vaqueiros da confiança de Zeca não apareceu, e o boato ganhou o mundo, que o vaqueiro velho raptou a menina de oito anos. Ninguém os achou... Toda a vaqueirama do Cariri se reuniu novamente em Sumé, só Jacinto que não apareceu. Todo mundo pensou que ele tinha mesmo raptado a menina Joaninha. Passaram-se dois anos do ocorrido. Do nada, um velho vaqueiro viu na margem do rio Paraiba uns rastros, pegadas de uma criança e ele achou estranho. Naquela noite chegou em Prata, juntou os caboclos que poderia conseguir e se embrenharam no meio do mato pro lado da Alagoa do Monteiro. Parte dos vaqueiros acharam que eram qualquer livúzia, outros pensavam que o mal assombro era coisa verdadeira, até fogo-fátuo foi visto nessas andanças.


Furna do Índio/Pedra do Letreiro. Jabre, Maturéia-PB

No dia seguinte, lá perto da Fazenda São Paulo, a tropa de vaqueiros estava a postos para encontrar a menina. A busca foi possível por exímios caçadores, como o amigo Nivaldo Maracajá, que fareja pegadas das mais singelas no terreno empoeirado.


“Na procura pela menina, Jacinto não apareceu. Só pode ter raptado ela e está muito longe daqui”, lamentavam seus pais. Até que um molequinho, andando na propriedade atrás de preá com uns primos, encontra n’uma furna um homem morto, era o vaqueiro Jacinto. Picado por uma cascavel, nem socorro teve coitado.


E agora? Se Jacinto não raptou a menina Joana, o que ocorreu com ela? Nessas pelejas, finalmente pegaram a menina a laço, correndo no meio do mato, já com quase 10 anos. Seus pais a perguntaram o que de verdade ocorreu. Foram dias em que a menina nada falava, olhava “emburrada” como a estranhar a família. Mais de dez dias depois, a menina se ambientou na casa e balbuciou algumas palavras, para a glória de Jesus, disse a sua mãe. Foi aí que a pequena Joaninha disse que estava indo com a marmitinha entregar a seu Pai e em uma touceira de galhos, viu umas criancinhas brincando e lhe chamaram, daí ela entrou no mato. Ali aquelas criancinhas fizeram uma roda e ela começou a brincar, a dançar, estavam com o avô delas, um velhinho de barba branca, um gorrinho vermelho e tudo muito bonito. Ela ficou morando ali, comendo umas frutinhas, raízes, uns coquinhos catolé, aquelas coisas do meio do mato. Foi quando disse: – Eu tava muito feliz mãe, mas as vezes dava um dó danado, porque só eu tinha as duas perninhas...


Saci - ALCR


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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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