TEM ALGUNS DIAS que fui convidado a participar de um evento lá nas terras de Zé Lins do Rego, a histórica e antiquíssima Pilar-PB, no baixo vale do rio Paraíba. Confesso que desde de que foi publicada uma revista pela A União sobre Zé Lins em junho do ano passado – organizada pelos amigos William Costa e Alexandre Macedo – que tenho vontade de voltar a esse município que me encantou. Poder rever o Engenho Corredor, as grossas paredes da igreja matriz e a Casa de Câmara e Cadeia, era minha vontade, além do mais, o prazer em encontrar confrades e confreiras dos Institutos Históricos e Geográficos de Goiana-PE (IHAGGO), Igarassu-PE (IHGI) de Serra Branca-PB (IHGSB) e do Paraibano (IHGP).
Não posso olvidar do quanto aprendo com o Professor Josemir Camilo de Melo, um “paraibucano” nascido em Recife, que morou em Goiana e fez (e faz!) história em Campina Grande, onde vive há mais de quarenta anos formando historiadores e forjando sonhos. É muito bom ouvi-lo. Suas elucubrações são inspiradoras. Amealho sempre um pouco de sua sabedoria. Ele faz parte de todas essas instituições com louvor e Goiana já nos recebeu várias vezes em seus eventos. Outro grande historiador que me acompanhou foi o querido Professor José Pequeno, conhecidíssimo como Prof. Zezito, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Serra Branca com toda sua dinâmica, energia, um irmão que o mestrado me deu.
No Conjunto dos Professores, pego o Prof. Camilo na portaria de seu prédio, e no caminho já sou alertado por ele das plaquinhas que estão sendo afixadas nas árvores da praça desse conjunto, alguém está presenteando os frequentadores com o nome popular e o científico das muitas árvores existentes. Junto com uma reforma feita no último governo, o lugar ganhou vida com crianças na quadra e moradores na pista de caminhada, ótima iniciativa. No caminho do Açude Velho, Zezito se junta a nós. Isso foi na última quinta-feira (25 de agosto de 2022). Estava frio e pinguinhos esparsos recomendavam o fechamento das janelas. Contornamos a giratória de entrada da cidade, descendo devagar a BR 230 que tomava corpo. Particularmente fiquei impressionado com a quantidade de Ipês rosa na área de mata à esquerda. Bombas floridas pareciam estourar ao nosso olhar. Copas rosas surgem aos montes (sem exagero!), a irregularidade de onde surgem, ora nas encostas dos serrotes, ora nos baixios garantiam feições belas. Unidas ao verde, pareciam as instigantes pinceladas de Flávio Tavares; isoladas, eram fofos algodões-doces. Apesar da hora não favorecer (todo mundo ocupado!), tive que parar pelo menos uma vez no acostamento para fotografar. Mas setembro ainda não chegou... E vem o amigo Prof. Daniel Duarte e me ajuda dizendo que: “os Ipês ou Paus D'Arco são bioindicadores ambientais, respondem às condições do meio” então as chuvas não esperadas desses últimos meses devem ser as culpadas por esse espetáculo natural.
Até o Café do Vento, fomos afortunados com tanta beleza. Descendo para o vale, vi muitas construções novas nessa entrada para Pilar, bem diferente da paisagem que pude contemplar há quinze anos. E na Casa de Câmara, aos cuidados da Fundação Menino de Engenho, conferimos a sua restauração em fevereiro de 21, a manutenção da biblioteca e a criação da Galeria Cultural Lucrécia Medeiros, exposição de textos n’A União de Zé Lins ao lado de personalidades da cultura paraibana, tinha que ser coisa de Naná Garcez, que vem revolucionando jornal, editora e rádio.
O evento para o qual fomos inaugurou o painel do projeto ‘Paredes que contam a história’ composta por azulejos tipografados com texto em homenagem a Manoel Clemente Cavalcanti de Albuquerque, filho de Pilar, preso político na Revolução Republicana de 1817 (estourada aqui na Parahyba e em Pernambuco) e que se juntou aos liberais constitucionalistas de Pernambuco na Junta de Goiana que cercou Recife em 1821 derrubando o governador português Luiz do Rego Barreto (que partiu para Lisboa). Adriano Gomes (da Fundação) agradeceu pelo painel ser afixado na Casa de Câmara; Josemir Camilo, José Octávio, Jean Patrício e Harlan Gadelha discursaram valorizando o parahybano Manoel Clemente e, sobretudo, os importantes movimentos de independência ocorridos aqui no período e que precisam ser valorizados e ainda mais conhecidos, sabendo que os ideais republicanos só se estabeleceriam décadas depois na Proclamação em 1889. Coube ao Prefeito José Benício agradecer pelo resgate de uma importante figura histórica, impressionado que ficou com um trabalho de pesquisa da lavra Prof. Camilo sobre este importante filho da cidade e a sensação de estar valorizando nossa história foi inestimável.
Vendo o cair da tarde da sacada do sobrado, a Matriz lá na frente, tento ver o Rio Paraíba correndo em paralelo a Av. José Lins do Rego e encontro um faceiro Ipê, rosa também. Me pareceu uma delicada mensagem de “volte sempre”, e voltarei.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União de 27 de agosto de 2022.
Como sempre falo em meus comentários; e sempre prazeroso ler as crônicas de nosso professor Thomas, pela forma descritiva e sentimental como ele retrata o seu cotidiano; e este é o maior dom que um escritor e historiador possuí.
Mas, a cada leitura, me sinto envergonhado pela minha falta de cultura da própria história da Paraíba.
Obrigado mais uma vez!
Gostei da forma poética com a qual descreves a paisagem. E o professor Camilo é um incansável na preservação da História.