As pesquisas em arqueologia, ciência que estuda o passado da humanidade através de seus vestígios, nos proporcionam momentos incríveis de reflexão e aprendizado. Há três anos, ao lado do arqueólogo Professor Juvandi Santos tive a oportunidade de se embrenhar pelos sertões da Paraíba em busca de marcas ancestrais.
Primeiro, atendendo à pesquisa de pós-doutoramento do Prof. Juvandi, percorremos os municípios de Coremas, Pombal e Paulista em busca de vestígios de antigas fortificações (casas de pedra) feitas pelo colonizador para auxiliar no combate aos indígenas em meados do séc. XVIII e curiosamente encontramos as referências aos topônimos, nome de lugares que permaneceram intactos por mais de três séculos como Riacho Seco, Flores e Queimado. É admirável como um nome de lugar permaneça intocado por tanto tempo e fazendo referência as mesmas paragens, a barra de um rio ou sopé de um serrote, de caminhos inóspitos e vegetação acaatingada.
No dia seguinte a pesquisa, auxiliamos a excursão da Universidade Federal de Campina Grande (Campus Cajazeiras) organizada pela Profa. Uelba Alexandre e composta de 38 alunos do curso de História. Fomos até o município de Vieirópolis, já na divisa com o vizinho estado do Rio Grande do Norte, e ali buscávamos os testemunhos rupestres na Serra das Araras, ou Serra Branca, uma elevação residual de aproximadamente 3km em semicírculo abraçando o sítio Arara. A Serra é visível de muito longe, ainda no centro de Sousa, basta olhar na direção norte e avista-se no horizonte aquele monumento natural com um grande afloramento rochoso em tons esbranquiçados, rompendo a vegetação e dando nome àquele lugar.
A aula de campo tem início na zona urbana de Vieirópolis. Ali, fitando a serra, os alunos recebiam informações sobre o paleoambiente e os testemunhos ancestrais de toda a planície sertaneja. Em seguida, rumamos em direção a Serra. Durante a caminhada, a vibração e o encantamento dos alunos com a atividade era contagiante; questionamentos em série (perguntas de todos os tipos!) e a marcha seguia subindo a meia encosta norte da Serra Branca. O caminho se fazia bem íngreme em alguns trechos, a fina areia branca descia disciplinada como que em uma ampulheta, juntando-se a pedregulhos que eram vencidos pouco a pouco pelos estudantes. O cansaço já era a companhia inseparável e o silêncio poupava fôlego e ao mesmo tempo proporcionava ouvir o vento que em uivos balançava os galhos retorcidos e trazia cantos de pássaros de longe.
Depois de 20min de caminhada chegamos ao sítio arqueológico, um afloramento em granito medindo aproximadamente 12m de altura formando em sua base um abrigo por uma interessante sobreposição de rochas, a visão da paisagem a partir do lugar é fantástica, é possível ver grande extensão do pediplano sertanejo. Os testemunhos ancestrais ornam a face norte da rocha, inscrições rupestres em tons ocre avermelhados feitas por povos antiquíssimos que por ali passaram. Foi em uma escavação neste sítio rupestre que em meados da década de 1990 chegou-se a uma datação de aproximadamente 7mil anos.
À noite, no auditório da UFCG, tive a honra de dividir uma mesa redonda com o Prof. Juvandi com o tema ‘A relação entre História e Arqueologia e os sítios arqueológicos da Paraíba’, espaço muito importante para o diálogo com os alunos e o encaminhamento de pesquisas. A mediação ficou por conta da Profa. Uelba, organizadora do evento. Particularmente na Paraíba há um pequeno número de pesquisadores voltados para a arqueologia e um momento como esse é muito importante para esse despertar.
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