
Por vezes o ponto final é o começo
E a interrogação é um gesto
Que a vida assume pra concluir
Um virgular sem fim,
Reticente.
Ponto final, José Edmilson Rodrigues.
NO ANOITECER DA ÚLTIMA QUARTA-FEIRA, o céu foi tomado por um denso azul escuro. Um sopro gélido nos envolvia, um vento brando vinha como anunciação de chuva. Essa é a Campina que encanta. Do alto da Borborema, é suprema no calor e no frio, parecendo brincar com a temperatura nos inspirando em sensações múltiplas. No tom oxigenado da serra, temos um verdadeiro arejar na mente, suscitando reflexões. Foi nesse cenário que me dirigi ao Museu dos Três Pandeiros para compartilhar a alegria do meu amigo José Edmilson Rodrigues que estava lançando mais um livro. Sempre que subo aquela sinuosa rampa de acesso, me admiro com a genialidade de Niemeyer, cujos contornos circulares do museu detém sua assinatura. Um breve sereno se interrompe, seria Apolo, o Deus grego da poesia, se entendendo com Hefesto (o Deus do fogo!) em uma quarta pré-carnavalesca, justamente a quarta-feira de fogo?
‘Ensaio de Tempo’ era o livro da vez. Me encosto em uma mesa, observo a extensão do Açude Velho e em suas margens pessoas à caminhar, momento em que folheio a obra e uma lembrança forte e muito cara repleta de sentimentos me fez viajar no tempo. Era final de 2005, a cidade já se vestia de natal e eu visitava mais uma vez meu amigo José Edmilson Rodrigues em sua residência quando ainda morava nas mais altas porções do bairro Alto Branco. Apesar do verão, aquele sábado foi chuvoso e o nevoeiro era por nós admirado por uma pequena janela. Contíguo a sua sala de estar estava uma porta por trás da porta de entrada, funcionava como uma passagem um tanto quanto secreta para os aposentos mais concorridos de seu estar na casa, um escritório estreito e comprido, aconchegante com cd’s, discos, equipamento de som, computador e livros, muitos livros. Generoso como sempre foi e sabendo da minha predileção pelas coisas, cheiros e sabores de nossa cidade, iniciou àquela conversa apresentando uma série de retratos antigos de Campina e brincamos por um bom tempo identificando antigos prédios, lugares e o que ainda existe daqueles cenários já que muitos deles estão hoje totalmente desfigurados.

Um bom tempo depois ele busca no computador um arquivo e pede para que eu aprecie. Tomo o assento, ele me observa e deixa expressar um leve e tímido sorriso. Vou passando as páginas e de imediato encontro uma apresentação do crítico literário José Lino Grünewald e vou me debruçando na leitura de alguns poemas que estavam organizados e editorados no programa PageMaker 6.0 já em formato de livro. Disse ele que o material tinha uns dez anos e que não havia mostrado a quase ninguém. Com palavras embaralhadas, me disse que estava um pouco afastado da cena literária, recluso, que não estava muito “afim”. Além das passagens inaudíveis, entendi a preciosidade daquele material e passei algum tempo o instigando a publicar e o tempo passou, e lá se vão quase vinte anos até que a premiada editora paulista Patuá incorporou em seu catálogo aqueles poemas, aquela sua obra. A Patuá tem como foco editorial a Literatura Brasileira Contemporânea nos gêneros poesia, conto, crônica, romance e dramaturgia, se consagrando no país através da conquista de prêmios como o ‘São Paulo de Literatura’, o ‘Prêmio Jabuti’, o ‘Prêmio Açorianos’ dentre outros.
Alguns retratos do lançamento - TB
Volto dos pensamentos através do chamado de meu amigo historiador Eduardo Gomes que veio me dar um abraço. Em alguns minutos viajei por quase vinte anos e de volta ao saguão dos Três Pandeiros, vejo um a um os que chegavam para prestigiar o nosso querido poetinha. Só de confrades da Academia de Letras de Campina Grande foram quinze que se uniram a familiares, amigos de infância, de literatura, de trabalho e de projetos. Pessoas com quem compartilha a experiência da existência. Um evento bem prestigiado a saber que lançar um livro atualmente é um grande desafio. Em seu ensaio, reflexões e uma ‘oração ao tempo’ (Caetano Veloso) “tempo, tempo, tempo, tempo”.
Com seu Ensaio de Tempo, José Edmilson reafirma sua escrita, defende sua estética e se consolida no hall dos grandes escritores paraibanos.
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A UNIÃO em 1 de março de 2025.
Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves.
Preserve está amizade, Zé é amigo " Com força" Kkkkkkkk
Ansioso para ver como se comporta o Tempo de José Edmilson.