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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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  • Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Por aí pela cidade


Complexo Aluízio Campos - G1

Temos visto o tempo passar. Dias, semanas e já nos encontramos em outubro. O rigor do isolamento social tem sido resignificado. Para os mais rebeldes, o ‘novo normal’ não existe mais, o cotidiano e a rotina de sempre são cumpridos em sua inteireza. Há os que adaptem o isolamento, fazendo como os ingleses e visitando apenas uma residência, quer seja familiar ou de amigos, outros vagam nas horas mais vagas da vida comum, usando-se das últimas horas da noite e as primeiras da manhã para (re)ver o seu mundo que foi arrebatado de seus olhos há muito, evitando aglomeração e sequer o contato com outras pessoas, um percurso de contemplação solitária. Foi assim que o amigo Gonzaga Rodrigues foi conferir se o monumento ‘Altar da Pátria’ teria sido mesmo depredado na capital paraibana, que bom que nada foi vandalizado na Praça João Pessoa.


Numa dessas escapadas, fui deixar minha tia em casa. Com máscara, “besuntando” as mãos o tempo todo com álcool e com as janelas cerradas, cumpri a obrigação, não seria prudente expô-la ao risco do transporte público e boa parte tem esse risco... Assim, me dirigi ao conjunto Major Vaneziano, distante oito quilômetros do meu Bodocongó. Meus olhos desacostumados dos fulgurantes raios de sol, demorou um pouco a adaptar a retina àquela geografia cotidiana de outrora. Metros à frente, me deslumbro com a beleza encantadora das flores de ipês rosa, uma delas se lança ao meu para-brisa marcando sensivelmente aquele meu itinerário, sinais da primavera; estou no canal de Bodocongó e vou mais devagar. Lembrei do ensinamento do historiador José D’Assunção Barros de que em todas as épocas o transeunte acelera e desacelera, vivenciando emoções olfativas e táteis, respirando o ar de sua cidade.


Canal de Bodocongó em junho de 2020

Percorri as curvas sinuosas do canal de Bodocongó, lembrando de quando por ali caminhava nas primeiras horas da manhã, contemplando a timidez do sol que aparecia de mansinho. Subindo a Av. Floriano Peixoto, observo o hospital da Facisa em adiantado estado de construção (ao lado do hospital de trauma) e um faustoso conjunto de prédios nas Malvinas, quem diria há alguns anos que veria prédios com 15 andares naquele bairro. Vi também o intenso movimento nos arredores do hospital e toda a cadeia produtiva que ali se arranjou: restaurantes, pousadas, lanchonetes e também mortuária.


Alcancei a Alça Sudoeste, rodagem por onde passa boa parte da riqueza desta terra. Sempre devagar, observando cada detalhe, desde a silhueta da Serra de Bodopitá no horizonte ao preço de combustível nos postos (como aumentou!); as casas na beira da pista e as chananas e jitiranas que se espalham vadias pelo meio-fio. Conjuntos habitacionais que se formaram rapidamente naquela porção oeste de Campina Grande; o Portal Sudoeste em breve será reconhecido como bairro, separando-se do Três-Irmãs. Tomo a direita próximo a Catingueira e vejo casinhas muito antigas margeando a fazenda Ivandro Cunha Lima, em seguida se descortina um grande conjunto de casas, escola, uma lagoa e lá no fim a entrada para o Major e me chama atenção uma mãe com uma menina querendo se abrigar na sombra de uma parada de ônibus, mas com medo de um bode pai-de-chiqueiro que sorrateiro aproveitava para pastar, não vi seu dono. Defronte ao complexo de quatro conjuntos, arrodeado por propriedades rurais, no que seria uma praça, o terreno foi totalmente ocupado por tendas e trailers visando atender as necessidades da população. De barbeiro a vendedor de frutas numa ocupação espontânea tipo feira.


Feirinha se formando defronte ao conjunto Major Veneziano em 2015 - Ana Keli de Queiroz

No retorno, me entristeci com uma mensagem afixada em uma cerca, recomendações de uma facção criminosa, uma intimidação àqueles moradores. Não foi possível ler, mas certamente não seria boa coisa. Com essa disposição e espraiamento do tecido urbano, tive curiosidade de ver o conjunto Aluízio Campos, entregue no fim de 2019, com suas mais de quatro mil moradias, ainda não conhecia.


Às margens da BR 104, próximo ao Ligeiro, vi um conjunto alegre e ainda em formação. Não são todas as casas que estão ocupadas. O geometrismo das quadras e ruas nos dá a impressão de estar no mesmo lugar, a não ser pelos inúmeros pequenos comércios que surgem, muitos deles precários e ocupando irregularmente calçadas; toda sorte de vegetais e víveres são vendidos. Vi escola, creche, tudo muito bem arrumado, mas senti falta da construção de um mercado, lugar que pudesse abastecer com tranquilidade a população, tamanha é a distância da feira central. No setor de prédios, vi uns abrigos para galões de lixo e dois deles ocupados por caprinos. Penso que na pesquisa socioeconômica feita com os futuros moradores, se tivessem identificado que havia pequenos criadores, alguma quadra nas bordas do conjunto poderia ter residência adaptada para esse fim. Desta forma é como bem disse o escritor Roland Barthes que os populares reinventam e atualizam os usos da ordem espacial que é a cidade.


Voltei para casa impressionado com essa nova Campina que surge. Campina, quem te conhece tem que conhecer mais.


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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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