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TURISMO & HISTÓRIA

Notas para um jornalismo literário e histórico

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  • Foto do escritorThomas Bruno Oliveira

Subindo a Serra de Caturité

Pedra D’água é um singelo e bucólico lugarejo existente no pequenino município de Caturité, distante 34km Campina Grande. Tive o prazer de conhecer este lugar nos idos de 2008 através do meu querido amigo e companheiro de pesquisas Vanderley de Brito. Na oportunidade, sua pequena filha Shirley e sua mãe Filomena nos fizeram companhia. Naquelas cercanias, meu cicerone possui um sem número de familiares, gente que carrega os sobrenomes Brito e Vidal de Negreiros.


Pedra D'água e a Serra de Caturité

Para se chegar a Pedra D’água, trilha-se pela BR 104 até encontrar a cidade de Queimadas, na única falha tectônica da Serra de Bodopitá, abrindo caminho para o Vale do Paraíba. A partir dali ruma-se pela PB 148 até avistar a monumental Serra de Caturité, momento em que já passamos da entrada da cidade e também do sítio Curralinho. Numa estrada de terra à esquerda descemos a Ramada, sítio histórico da família do amigo Vanderley, lugar em que passou a infância. O bailar da poeira fina entre os galhos retorcidos de velhas árvores davam tom memorialístico; resquícios de criação e de atividade agrícola pode-se ver nos arredores de pequenas casas cujo barro, madeira e tijolos as fazem resistir ao tempo. Proseamos em alguns baixos alpendres e pudemos sentir o cheiro do passado em telhas largas, punhos de rede torneados e grossas cumeeiras amarradas com espessas tiras de couro, as almas ancestrais nos conduziam e nos guiavam veredas adentro. Encontramos ‘Seu Lau’, que nos contou a história do lugar.


Seguindo a estrada, já em Pedra D’água, fiquei encantado com a sutileza de um arruado encerrado por uma igrejinha e esta, de costas para a porção abobadada da Serra de Caturité, parecia abrigá-la do horizonte, aquele gigante azulado emoldurando torre, sino e cruz. Crianças jogando bola em um campo, mulheres com trouxas de roupas lavadas, não raro se vê homens pelos recantos conversando (e fumando), acocorados como a se livrar dos raios de sol; já era tarde, visitamos alguns parentes, Maria Preta me encantou com sua generosidade de Professora... encontramos um primo, Gutemberg de Brito, o Berg, e ele como exímio caçador, nos disse haver algumas furnas interessantes na Serra. Combinamos com ele um retorno para ascender o gigante magmático e voltamos, dias depois, na companhia de Dennis Mota e Erik de Brito.


Há anos que visitamos lugares com vestígios rupestres de antigas civilizações que andaram por esses rincões e na outra face da Serra, um ano antes, encontramos um sítio de pinturas em vermelho. Como a porção abobadada é mais suntuosa, pensamos que a possibilidade de existir pinturas rupestres pudesse ser maior e seguimos. Berg nos ensinava o tempo todo sobre os rastros de animais, o comportamento da fauna e da flora naquele pé de serra; era capaz de enxergar o perigo de longe e assim, há uma boa distância, fez-nos desviar do caminho de uma serpente que por ali tentava a sorte.


Iniciamos a subida por sua face norte e chegamos a um abrigo interessante, em sua entrada existe um cajueiro antigo denominado de ‘Pé-de-Caju do Índio’, certamente de tempos imemoriais. Na superfície existia fragmentos cerâmicos que podiam ser muito antigos, o lugar merece uma pesquisa arqueológica! Vários matacões e furnas foram vistos, o lugar está há pelo menos 220m distante da Pedra Talhada, um grande bloco granítico na meia-encosta da Serra formando abrigo com 25m de altura e piso por sobre um lajedo inclinado. Este grande bloco talhado, que recebera este nome por conter marcas erosivas em seu frontispício; além de formar este abrigo, também dá origem a alguns salões interessantes, porém nenhuma inscrição rupestre foi vista.


Açude de Boqueirão a partir da Serra de Caturité

Dali seguimos ao topo dos 802m de altitude, totalizando uma subida de 372m por sobre o Planalto da Borborema. No cume, há uma vegetação fechada que contém em seu centro um famoso Jucá. Esta árvore que na linguística Tupi significa ‘pau-ferro, tacape’, provia estes indígenas de madeira para esses instrumentos. A fama deste Jucá advém do escritor paraibano Irineu Jóffily (1843-1902) que em viajem da Vila de Boqueirão à povoação de Barra de Santa Ana, em julho de 1867, organiza uma subida àquela Serra: “Estávamos ao pé do pico do Caturité, que se elevava majestoso, coberto de frondoso arvoredo. Não havia uma picada, um trilho sequer, pelo qual nos dirigíssemos” (1977). No alto da Serra, Jóffily faz uma interessante descrição das Serras que a circundam e “Depois de demorar a vista por mais de uma hora no vasto panorama, acolhemo-nos à sombra de um frondoso jucá, e em seu tronco liso eu e o meu amigo Japiá gravamos com um canivete os nossos nomes e a data de nossa ascensão”.


A época, Jóffily contemplou as serras de Inácio Pereira, Carnoió, Bodopitá, Bodocongó, do Monte e o serpentear do Rio Paraíba que naquele julho recolhia água no seu curso. “É um lugar muito apropriado para um imenso açude, muito superior ao Quixadá no Ceará”. E 153 anos depois estávamos nós, rodeados daquele mesmo ‘frondoso arvoredo’ e contemplando as serras e as águas do Paraíba, só que agora barradas nas fraldas da Serra de Carnoió formando um imenso espelho d’água, o Açude de Boqueirão, exatamente onde Jóffily chamou atenção para sua construção.



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O começo

Durante anos temos viajado por diversos lugares para o desempenho de pesquisas e também para o deleite do turismo de aventura. Como um observador do cotidiano, das potencialidades dos lugares e das pessoas, tenho escrito muitas dessas experiências de centros urbanos como também de suas serras, montanhas e rios. Isso ocasionou a inspiração de algumas pessoas na ajuda em dicas de viagem.
Em 2005, iniciamos uma série de crônicas e artigos no Jornal Diário da Borborema, em Campina Grande-PB e após anos, assino coluna nos jornais A União e no Contraponto. Com o compartilhamento das crônicas, amigos me encorajaram e finalmente decidi entrar nas redes.
Aqui estão minhas opiniões, paixões, meus pensamentos e questionamentos sobre os lugares e cotidiano. Fundei o Turismo & História com a missão de ser uma janela onde seja possível tocar as pessoas e mostrar um mundo que quase não se vê, num jornalismo literário que fuja do habitual. Aceita o desafio? Vamos lá!

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