“É evidente que a maioria dos petróglifos ou itaquatiaras do Nordeste do Brasil, estão relacionadas com o culto das águas [...] É natural que nos sertões nordestinos, terríveis de estiagens, as fontes d’água fossem consideradas lugares sagrados.” É assim que a arqueóloga Gabriela Martin escreve sobre as itacoatiaras da região no livro ‘Pré-História do Nordeste do Brasil’ (2005).
As gravuras rupestres, chamadas também de itacoatiaras – do tupi: Ita = pedra; Kwatia = riscada, existem por todo o país sob técnicas e tipologias variadas. No Nordeste elas são agrupadas em uma grade ‘tradição Itacoatiara’ (parâmetro metodológico para estudá-las) e fazem parte dos testemunhos rupestres da pré-história destas terras. Na Paraíba, os sítios arqueológicos de gravuras sulcadas em rocha mais conhecidos são a monumental Pedra do Ingá e a Pedra de Retumba (este com escavação iniciada na última semana pela equipe da UEPB chefiada pelo arqueólogo Juvandi de Souza Santos)
Segundo a própria Martin, as itacoatiaras são “de todas as manifestações rupestres pré-históricas do Brasil, aquelas que mais têm prestado a interpretações fantásticas”, que vão desde explicações desvairadas como a atribuição de autoria a outros povos (Fenícios, Egípcios, etc.) ou até mesmo a afirmativa de que estas profusas inscrições não fazem parte do universo pré-histórico, fato absolutamente comprovado por escavações no vizinho estado de Pernambuco, no abrigo do Letreiro do Sobrado, cuja ocupação é datada de 1.200 e 6.000 anos ou mesmo na Serra da Capivara – PI, no sítio Toca dos Oitenta, com ocupações datadas entre 5.650 e 7.840. Além das pesquisas já desempenhadas em território paraibano pelos integrantes da Sociedade Paraibana de Arqueologia e do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB.
As itacoatiaras estão ao longo de cursos d’água, quer seja nas margens ou mesmo no leito de rios. Em sua grande maioria, em época de cheias, entram sempre em contato com as águas. Entretanto, encontramos alguns sítios com gravuras rupestres na Paraíba que estão totalmente desassociados a água, fato bem curioso que pretendemos abordar em breve publicando um estudo a respeito.
Quem tem a oportunidade de conhecer a imensidão e a imponência da seca em períodos de estiagens no interior do Nordeste, pode compreender a imensa importância, a dádiva, a magia, o milagre que é um curso d’água, que mata a sede dos homens e das criações, banha os pequenos roçados e traz cores ao Mundo-Sertão. Este caráter mágico permeou outras diversas civilizações, que também considerava os rios e torrentes como lugares sagrados. Exatamente por esta compreensão, que a Gabriela acreditou que as itacoatiaras são na verdade um ‘culto às águas’, que representam um ritual cabalístico, mágico-religioso, que, possivelmente, visava um retorno destas águas, extremamente necessárias para a vida destas populações em todos os tempos.
Esta teoria é perfeitamente plausível, Gabriela Martin é uma renomada pesquisadora de um importante centro de pesquisa arqueológica que é a UFPE/FUNDHAM e seu renome advém exatamente de seus estudos científicos, intuitivos e corajosos acerca da pré-história do Nordeste. No entanto, podemos afirmar que, indubitavelmente, as itacoatiaras fazem menção a um culto as águas? Certo mesmo é que este copioso testemunho remonta a PRÉ-HISTÓRIA, e seus estudos conclusivos na Paraíba tem se desenrolado, porém, com muito ainda para se desvendar.
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