EM 2012, ANO DO CENTENÁRIO de nascimento do Rei do baião Luiz Gonzaga, tive a honra de participar de um projeto que se tornou uma das maiores homenagens a esse ‘monstro sagrado’ da música brasileira. Me refiro a ‘Casa de Gonzagão’ no Parque do Povo, em Campina Grande-PB, justamente durante os trinta dias de festa n’O Maior São João do Mundo. O projeto foi patrocinado pela empresa Estrutural Eventos do visionário empresário Jomário Souto e teve a concepção de um trio (tinha que ser um trio!) formado pelo gonzagueano Xico Nóbrega, José Edmilson Rodrigues e eu. Fizemos o projeto como se tocássemos um arrochado forró com sanfona, triângulo e zabumba. Nesse dezembro que Deus nos dá, de Santa Luzia, de Gonzaga e do forró, relembro a maravilha que foi aquele trabalho.
“Minha sanfona, minha voz e meu baião, este meu chapéu de couro e também o meu gibão, vou juntar tudo, dar de presente ao museu, é a hora do adeus, de Luiz Rei do Baião”. Reviver Luiz Gonzaga e o seu tempo foi a proposta da Casa de Gonzagão, homenageando o centenário do imortal cantador da Asa Branca. A exposição teve o apoio da Prefeitura Municipal e do Museu Fonográfico Luiz Gonzaga, do gonzagueano José Nobre. A Casa expôs vida e obra de Gonzaga e seus seguidores em painéis gigantes - de 2,70 metros de altura e 4 metros de comprimento - com retratos, capas e selos de discos, fotos e comentários do período histórico em que ele viveu compreendendo sete décadas, Passamos pela sedição do “Padim” Padre Cícero do Juazeiro, a era do Presidente Getúlio Vargas, segunda guerra mundial, a construção de Brasília, o regime militar, retratando a inserção do Rei do Baião em todo esse contexto histórico.
A ambientação da exposição recriou a casa de taipa, mobiliário e apetrechos onde o segundo filho de Januário e Santana nasceu em 13 de dezembro de 1912. Uma seção da exposição lembrava o pai de Luiz Gonzaga, Seu Januário, tocador de fole e consertador do instrumento em sua oficina. Os manequins com os trajes das figuras ícones da cultura nordestina, o vaqueiro e os célebres cangaceiros Lampião e Maria Bonita, que inspiraram a indumentária artística de Luiz Gonzaga; a réplica do chapéu de couro e do gibão do cantor e o trio instrumental criado por ele; elementos como sela, arreios e cavalo marcantes do ciclo do gado no sertão nordestino. Tudo isso chamou muito a atenção dos visitantes que desde as tardes formavam fila para a visitação.
Clique na setinha e navegue no álbum de fotos
“É verdade meu sinhô, essa história do sertão, Pe. Vieira falou, que o jumento é nosso irmão”, cantou Luiz Gonzaga em homenagem a esse animal de montaria e carga fundamental na civilização nordestina. Uma surpresa aos visitantes foi a representação do “jumento nosso irmão” pronto para transportar água com cangalha e ancoreta. Outra atração foram as réplicas das estátuas de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, do conjunto de esculturas em tamanho natural no Açude Velho de Campina Grande, compondo o monumento ‘Farra de bodega’.
A Casa de Gonzagão foi mobiliada com requinte lembrando a fase da vida de artista de Luiz Gonzaga com todo conforto no Rio de Janeiro e em Exú (quando compra casa para estadia na terra do coração), inclusive com a exposição de um rádio antigo que o consagrou em todo Brasil através da Rádio Nacional. Os aparelhos que tocaram os discos e carreira artística de Gonzaga, do gramofone dos antigos discos 78 rotações por minuto ao toca disco que nossos pais e avós ouviram tanto os baiões, xotes e toadas imortais de Luiz Gonzaga, tudo isso esteve em exposição. Inclusive o visitante podia ouvir música em radiola direto do LP, uma curiosidade para os filhos e netos da geração digital, aparelho tão decantado na vida doméstica do Brasil desde a década de 1930, antes da televisão.
Os programas especiais e outros documentos de áudio e imagens do Rei do Baião foram exibidos num telão montado na área do coreto junto a Casa de Gonzagão, à vista dos passantes nas principais ruas da cidade cenográfica do Maior São João do Mundo. Além dos visitantes que curtiam a festa, houve agendamento com escolas públicas e privadas para o acesso de estudantes que ficavam deslumbrados com o que viam e uma maneira de conhecer não só a história de Gonzaga como fragmentos históricos das tradições nordestinas, reconhecendo na vida em família muito do que viam.
Tudo isso me veio à mente depois que vi o box ‘Luiz Gonzaga, 110 anos do nascimento’ do paraibano Paulo Vanderley, uma belezura de livro que o amigo Thélio Farias me mostrou e que vou adquirir. Na terra do Maior São João não faltou homenagem a você Gonzaga, seu legado está vivo, sempre presente. “O homem é bom, o homem é espetacular!”. Viva Gonzagão!
Veja abaixo dois vídeos da época:
Veja também a crônica 'Junho é sentimento!' no link
Leia, curta, comente e compartilhe com quem você mais gosta!
Publicado na coluna 'Crônica em destaque' do Jornal A União em 17 de dezembro de 2022.
Luiz Gonzaga é um símbolo imortal da cultura nordestina. Quando criança, lembro que suas músicas tinham lugar cativo em tudo que era rádio.
Reitero...
Viva Gonzagão!
Obrigado Prof. Bruno!
Obrigado pela sua dedicação em retratar a nossa história; nossas tradições; e ninguém melhor neste momento, do que o nosso eterno REI do BAIÃO.
Sei que o grande Luiz Gonzaga se estremece no túmulo, quando escuta as músicas atuais, que todos insistem em chamar de FORRÓ; forró uma ova! Vocês sabem lá o que é forró? Sabem lá o que é baião? o que é cultura nordestina?
Agradeço a Deus pela oportunidade de ter vivido esta época, esta geração.
Agradeço também a você Prof. Bruno, por reviver estes bons momentos de nossa história.