MANHÃ QUENTE e úmida da última sexta-feira. Me uni ao Professor Josemir Camilo e aguardamos Jean Patrício chegar da capital. Tínhamos um motivo bem especial para o encontro de historiadores, é que o também historiador Prof. José Octávio de Arruda Mello estava prestes a fazer uma palestra sobre o bicentenário da independência do Brasil, mas não em Campina Grande e sim na aconchegante Alagoa Nova, a “Esmeralda verdejante dos Bultrins” nos dizeres poéticos do amigo alagoa-novense Luciano Oliveira, e fomos prestigiar. A saída de Campina foi tranquila e logo estávamos na BR 104. No retão da saída do contorno, lembrei-me das caminhadas até a ‘Virgem dos Pobres’ na vizinha Lagoa Seca, penitência cumprida por muitos fiéis durante todo o ano, assim como uma grande procissão que sai de Campina pintando de fé uma das faixas da rodovia.
O Juracy Palhano não larga seu verde por nada, “bairro mais arborizado da cidade”, como diz o incansável Juracy de memoráveis eleições. Lagoa Seca tinha cara de feriado, pouco movimento naqueles meados de manhã. Pegamos a direita na PB 097, também conhecida como ‘estrada para Alagoa Nova’. Mais adiante estávamos no distrito de Floriano até passar pela entrada para Matinhas denunciada, claro, por inúmeros pés de laranja, grande produtora que é. Dali até Alagoa Nova, presenciamos um verde que o sol ainda não castigou. Brejo úmido, ainda sobejando flores de Ipê (quase sempre amarelos), bonito de se ver.
Já em Alagoa Nova, defronte à Praça Sant’Anna, lembrei de quando estive na cidade, participando do evento de criação do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoa Nova. Isso antes da famigerada pandemia que foi só acabar a eleição e ela veio teimando em aparecer (ou teria sido escondida?). Esse mesmo Instituto, de Zé Carlos (Presidente), de Jadson, Júnior, Luciano, Ana Lúcia, do Aroaldo e tantos outros entusiastas que vem valorizando a cultura e história dessa cidade tão importante para o Brejo parahybano. Essa instituição foi quem organizou o evento e por “debaixo dos panos”, como dizemos nos Cariris Velhos, resolvemos fazer uma singela homenagem ao Prof. José Octávio que nesse novembro completa simplesmente cinquenta anos de sócio efetivo do IHGP, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Um feito para uma entidade de 117 anos, a casa de memória mais antiga da Parahyba em pleno funcionamento.
Quando chegamos na Câmara Municipal, Casa de Clementino Leite, o plenário estava lotado de alunos, professores e membros do Inst. Hist. de Alagoa Nova e, à mesa, José Octávio iniciava sua aula. Como de costume, veio com uma boa porção de livros para doar aos acervos da cidade, apresentando um a um. Irreverente e despido de formalidades, tinha a capacidade e generosidade de do alto de seus oitenta e dois anos interagir com alunos das mais diversas idades, dando a devida atenção a cada fala, a cada opinião. Fomos apreciar, mas é sempre uma oportunidade também de aprender um pouco mais. Não só a refletir sobre a história de nossas cidades e do nosso país, mas ter uma aula de humanidade, simplicidade e dedicação ao que faz.
Passados o discurso inicial e a palestra sobre o bicentenário, Jean Patrício, nosso presidente do IHGP, tomou a palavra e com a fidalguia e educação que lhe é peculiar, saudou o Professor Zé Octávio, agradeceu ao Instituto de Alagoa Nova e iniciou a homenagem que culminou com a entrega de uma placa: “Ao sócio efetivo Prof. Dr. José Octávio de Arruda Mello. Homenagem dos que fazem o IHGP pela sua notável contribuição a difusão da História e da Cultura em nosso Estado nestes últimos 50 anos”. O Instituto anfitrião também homenageou o Professor com uma placa; já ele, demonstrando satisfação, porém, tentando disfarçar a emoção, agradeceu a todos e logo disse: “Agora vamos à Biblioteca!”. É assim, ele não para. Queria conhecer a Biblioteca Municipal Analice Caldas, muito bem cuidada por Rita de Cássia, um exemplo para se conhecer e também fazer doação de livros.
Nos despedimos de José Octávio e voltamos para nossa rotina de compromissos. Antes, degustamos uma saborosa tilápia sem espinhas bem frita no Restaurante Pesque e Pague, um dos tesouros da zona rural da cidade. Momento em que conversamos sobre projetos futuros e comemoramos o êxito da homenagem. Zé Octávio merece. Vida longa a esse grande historiador.
Veja também a crônica 'Instituto Histórico e Geográfico de Alagoa Nova no link
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União em 19 de novembro de 2022.
Mais uma crônica bem sucedida. Mais um cliente... digo: leitor satisfeito.
Parabéns ao Professor Zé Otávio!
Uma vida dedicada a boas questões da nossa história.